terça-feira, 3 de abril de 2012

MEDITAÇÃO E O CÉREBRO.


A prática da meditação tem suas raízes históricas nas religiões orientais. Atualmente é prática muito frequente no ocidente, com objetivos religiosos, mas também simplesmente como forma de buscar a redução do estresse. Numerosos estudos científicos mostraram a capacidade da meditação para melhora orgânica e emocional. Por definição, a meditação é caracterizada pelo estado de atenção focado num acontecimento cíclico restrito, sendo mais comum a atenção plena na respiração. Esta atenção é acompanhada de contemplação, já que o único acontecimento em toda a expansão da atividade cerebral é a "respiração". Nada mais importa. Apesar da insistente avalanche de idéias que surgem para retirar a atenção, esforça-se apenas para concentrar-se na respiração. Tamanha a insistência nesta concentração que com o tempo, as idéias invasoras, acabam por desaparecer. A prática do iniciante tende a ser "desanimadora", pois a tão desejada "limpeza" da mente só se faz com esforço árduo inicial. A meditação segue a regra prática da vida, "primeiro o sacrifício, depois o benefício" e só os que realmente crêem nisto, conseguem todas as beneces da meditação repetitiva.
A meditação como prática de redução de estresse, começou em 1979, com Jon Kabat-Zinn, professor de medicina da escola de Massachussets. Na época, este estudo conseguiu mostrar na prática, a melhora da qualidade de vida dos meditadores.
Mas recentemente, revistas científicas conceituadas, utilizando métodos sofisticados de neuroimagem, têm demonstrado alterações na estrutura cerebral dos meditadores, em comparação com o cérebro dos que não meditam. Há comprovação científica de aumento da substância cinzenta do hipocampo esquerdo, córtex cingulado posterior, junção têmporo-parietal e cerebelo. Como consequência, os praticantes de meditação têm uma maior capacidade de concentração no cotidiano, melhora da memória, do equilíbrio estático e dinâmico, além de maior capacidade de raciocínio. O estresse diminui, pois a amígdala cerebral, estrutura relacionada com o estresse, reduz o seu volume. Portanto, a ciência comprova os benefícios intensos da meditação, não estando tais melhoras apenas no campo das crenças religiosas orientais.
As técnicas são variadas, mas a mais praticada consiste em assumir uma posição confortável em ambiente tranquilo, sem estímulos de qualquer espécie. Fecha-se os olhos e começa a observar a própria respiração, senti-la em toda sua plenitude. Nada mais importa. Se outros pensamentos surgirem, o que normalmente acontece, apenas observe-os passivamente e deixe-os ir embora. Volte a atenção para a respiração. Seja insistente. Com bastante esforço e várias tentativas, a recompensa virá, pois com a concentração plena no objeto a ser observado (no caso a respiração), sensação de mente leve surgirá e com o tempo evolui-se para outras sensações positivas e imensamente maravilhosas. A sensação da pós-meditação também é agradabilíssima, predominando a paz, a tranquilidade e a organização das idéias.
A meditação deverá ser repetida de forma regular, pois desta forma, os benfícios permanecerão.
A meditação deverá ser praticada por todos, pois não há efeitos colaterais e os ganhos são muito significativos.
Então, mãos à obra.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Atividade Fisiológica Cerebral/Consciência


A discussão de como a atividade cerebral leva à consciência é muito ampla e intensa, sendo constante na agenda de discussão da neurociência romana. Como exatamente a atividade fisiológica cerebral leva à consciência individual? Existe um "gap" entre função cerebral e consciência.
No momento atual, o que a neurociência demonstra, através da alta tecnologia em imagem e neurofisiologia, são as funções do cérebro e suas relações com funções mentais específicas.
A neurociência contemporânea não consegue ainda explicar como os padrões de atividade neuronal criam os cenários completos e complexos da consciência. A idéia cartesiana de que a realidade consiste fundamentalmente de dois tipos de entidade - mente/matéria - tem caído amplamente em descrédito, tanto nos círculos científicos como nos filosóficos. Este modelo dualista não consegue explicar como uma mente não física poderia influenciar fenômenos físicos. Portanto, a neurociência precisa desenvolver métodos de estudo valorizando e padronizando experiências individuais de exploração da consciência. Desta forma, trabalharemos para a melhor avaliação "empírica" da consciência.
Podemos estar vivendo um momento histórico de quebra de paradigma na "ciência da mente".

sábado, 26 de novembro de 2011

AMOR E O CÉREBRO





Terminei meu livro sobre a morte (DISSECANDO A MORTE), já em fase de edição pela editora Scortecci. Deverá ser publicado ainda este ano. Antes de escrever tal livro, postei o tema no meu blog para sentir a reação das pessoas que lessem a postagem. O "feedbach" foi bastante interessante. Algumas pessoas comentaram no blog e várias outras leram e discutiram pessoalmente comigo.Isto me ajudou muito na confecção do livro.
Agora estou a procura de um tema para trabalhar no meu próximo livro e já que escrevi sobre a morte, um tema de importância extrema e bastante "pesado" do ponto de vista psicológico, por que não escrever um sobre o amor? Óbvio que pesará minha visão neurofisiológica sobre o tema, mas não ficarei restrito a este espectro. Talvez explore a parte antropológica, histórica e filosófica.
Muitos estudos foram feitos ou estão em andamento sobre o cérebro e o amor.As alterações bioquímicas que ocorrem no cérebro dos apaixonados estão sendo cada vez mais conhecidas.
O amor é uma experiência que consome, que nos torna eufóricos, que vem acompanhado de sofrimentos profundos. Nos tira a fome, o sono e a capacidade de concentração profunda em qualquer outro assunto. Só a pessoa amada nos importa. É algo realmente "insano", pois não se avalia as consequencias de viver este sentimento. A racionalidade fica em segundo plano, tudo que importa é a conquista daquele ser inspirador. Os "doentes de amor" estão realmente doentes. Estudos mostram que as alterações bioquímicas encontradas nos cérebros de pessoas apaixonadas são semelhantes às alterações encontradas nos pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo. Há um baixo nível do neurotransmissor chamado serotonina. Talvez esta alteração tenha relação com a obsessão pela pessoa amada. As substâncias aumentadas nos cérebros dos apaixonados são a ocitocina e a dopamina. Os pesquisadores da Universidade de Cornell, em Nova Yorque, após analisar uma série significativa de pessoas apaixonadas, observaram que estas alterações biológicas importantes têm prazo de validade: 18 a 30 meses. Após tal período, os níveis de neurotransmissores começam a voltar para patamares normais e, infelizmente, o arrebatamento começa a reduzir em intensidade. Portanto, teria o amor verdadeiro, prazo para terminar? Será que Schopenhauer tinha razão quando dizia que o amor é apenas um truque evolucionário, relacionado apenas à perpetuação da espécie? Ele também dizia que assim que os apaixonados cumprissem suas "funções fisiológicas" de cópula e reprodução, o amor já não mais seria o mesmo e, geralmente, desapareceria.
Antropologicamente falando, o homem das cavernas se sentia obcecado pela fêmea escolhida e buscava pelo acasalamento. Posteriormente, a fêmea tinha importância na vida do macho pelo fato da mesma poder cuidar de sua prole. O macho tinha valor na vida da fêmea por lhe dar proteção e trazer a caça. Portanto, a paixão exultante e o amor resultante teriam a função da perpetuação da espécie.
Discutindo o amor desta forma, realmente, fica algo mecanicista demais. Todos nós precisamos acreditar que o amor transcende. Que a pessoa amada é realmente nossa alma gêmea e como não conseguimos quantificar o amor, mesmo que tenhamos vivido vários no decorrer de uma vida, todos são importantes e inesquecíveis. No entanto, parece que o mais sublime é o último. Portanto, sempre à procura do verdadeiro e definitivo amor. Talvez ele realmente exista e Schopenhauer tenha se equivocado redondamente.Quem sabe as alterações bioquímicas não sejam apenas um epifenômeno desta sensação que viria de uma dimensão inatingível? É um tema apaixonante (desculpem-me pela redundância) e envolto em mistérios, sem respostas definitivas.
"E que viva o amor".

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Estresse, Seria Ele o Grande Mal da Humanidade?

Corte frontal do cérebro, normal à esquerda e com Alzheimer à direita.



A palavra estresse é usada com muita frequência pelas pessoas, e apesar da complexidade da definição atrelada a este termo, todos sabem do que se trata. O significado de estresse para a população geral remete a algo mau, relacionado a sofrimento físico e/ou emocional. Bem, o estresse é caracterizado pelo aumento da necessidade metabólica orgânica, sendo este aumento relacionado a fatores internos ou principalmente externos. Um exemplo de fator interno de estresse seria uma doença orgânica que demanda aporte maior de energia, e as alterações hormonais características aconteceriam independentemente do aspecto emocional da pessoa. Porém, o grande problema do mundo moderno, sendo extremamente frequente, é o estresse emocional produzido pelas exigências individuais, associadas aos relacionamentos entre seres humanos, sejam na vida profissional, sejam na vida pessoal. Os padrões do mundo atual, com o capitalismo selvagem, o neoliberalismo e a sede insasiável de lucro pelas cadeias de produção, levam à exaltação da eficiência, tendo mais valor individualmente àquele que mais produz, mesmo que isto exija um esforço acima de sua capacidade normal. As pessoas trabalham com metas extremas a serem cumpridas, sofrem pressões emocionais de seus superiores ou do próprio mercado onde competem, sendo este um carrasco que não perdoa a "ineficiência". O mundo capitalista, que mantém como premissa a massa de mão de obra reserva, pune a falta de respostas individuais com demissões ou com rebaixamento de função nos postos de trabalho, afinal existem muitos trabalhadores desempregados, esperando por uma oportunidade e dispostos a cumprirem as funções exigidas, mesmo sendo elas acima de sua capacidade. Além de exigências absurdas no campo profissional, ainda é necessário enfrentar e lidar com outros tipos de sobrecarga emocional, como a violência urbana, os serviços de saúde pública inadequados, uma educação pública de má qualidade e até as relações familiares difíceis, num modelo onde as informações são tantas, de qualidades variadas, chegando às idades cada vez mais precoces e causando grandes problemas em relação aos limites a serem impostos por pais e professores.

Enfim, como pode o estresse causar danos orgânicos às pessoas? O estresse é determinado pela exigência externa de uma resposta exacerbada, resposta esta mais intensa que a resposta habitual. Fisiologicamente, isto é caracterizado pela conscientização da exigência pelo nosso neocórtex, mandando então informações para uma região chamada hipotálamo. Esta, então, produz o fator liberador de corticotropina, que atuando na glândula hipófise facilita a liberação de ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). O ACTH cai na corrente sanguínea e chega à glândula adrenal, em sua porção cortical. Esta, por sua vez, estimulada pelo ACTH, produz o cortisol, um hormônio que altera completamente a dinâmica do corpo, aumentando o metabolismo. O cortisol, juntamente com a adrenalina, liberada pela medula da adrenal, determinará aumento da frequência cardíaca, aumento da frequência respiratória, aumento da pressão arterial e desvio do fluxo de sangue para a musculatura estriada. O indivíduo fica mais atento e mais concentrado em relação ao fator estressor. Há um aumento da capacidade física e até cognitiva. Portanto, o estresse ocasional e em quantidades limitadas é bastante interessante para o ser humano. No entanto, quando o estresse é intenso e, principalmente, frequente, começam a surgir problemas diversos, tanto na esfera orgânica quanto na esfera emocional.


Os cardiologistas já tinham mostrado a nítida correlação deste problema com as doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio. Agora chegou a vez da neurociência mostrar os mecanismos moleculares capazes de produzir doenças relacionadas à perda de rendimento cognitivo e a distúrbios de humor.

O hipocampo, estrutura cerebral localizada no lobo temporal e de extrema importância na memória, é uma vítima dos níveis elevados de cortisol. A princípio, estudos realizados em laboratório,usando camundongos, comprovaram que os indivíduos submetidos a estresse crônico aprentavam perda de células nesta estrutura, com consequente redução do volume do hipocampo. Esta alteração, tem como consequência a redução de algumas formas de memória, em especial a de curta duração e a chamada memória de trabalho.Ora, já sabemos que os seres humanos com depressão apresentam com frequência uma redução no volume hipocampal, alteração esta relacionada à dificuldade de memória nestes pacientes. Esta redução de volume do córtex hipocampal relaciona-se diretamente à falta de capacidade do hipocampo em inibir o hipotálamo em resposta ao aumento de cortisol no sangue. Como consequência, mais cortisol é produzido e mais lesão hipocampal acontece. É uma verdadeira bola de neve.

Por outro lado, a amígdala, pequena estrutura do lobo temporal, fica hiperativa e aumenta de volume nas situações de estresse, graças à ação do cortisol. Acontece que a amígdala é o local da memorização dos acontecimentos traumáticos e estressantes, e quando hiperativa, facilita as reações do estresse mesmo em situações que não mereçam tal reação.

Certamente, estudos que já estão sendo conduzidos, irão muito em breve, mostrar o estresse crônico como um fator importantíssimo para o desenvolvimento de doença de Alzheimer, assim como já é reconhecido no desenvolvimento da depressão. A doença de Azheimer, caracterizada pela deterioração cognitiva progressiva e irreversível, tem como uma das mais importantes alterações macroestruturais, a redução do volume hipocampal.

Estes estudos precisam ser divulgados na imprensa leiga e com muito destaque, pois é de suma importância que todos conheçam os males do estresse, sendo que dentre estes certamente se encontram a depressão e os distúrbios de memória. A correlação direta e inequívoca com a doença de Alzheimer certamente será provada em breve.

Portanto, o estresse é no mínimo um dos grandes males da humanidade.

sábado, 16 de outubro de 2010

O Cérebro e a Consciência


Acredito que o maior desafio da espécie humana é conseguir, em um determinado momento da evolução científica, a explicação perfeita da consciência nos moldes racionais e dentro da metodologia científica clássica.
A neurociência tem aumentado a cada dia os conhecimentos em detalhes do funcionamento cerebral. Na pesquisa contemporânea, destacaram-se cientistas geniais e metódicos. Talvez, àquele que mais contribuiu para o entendimento do funcionamento cerebral foi Santiago Ramón y Cajal (1852 a 1934). Ele foi capaz de entender e demonstrar que a unidade básica funcional do cérebro é o neurônio, além de descrever o funcionamento do mesmo, inclusive inferindo o trajeto dos impulsos nervosos de um neurônio a outro em uma só direção, algo que não podia ser demonstrado experimentalmente na época, pois ainda não havia métodos tecnológicos de experimentação tão avançados.
Além de Cajal, tenho que destacar pesquisadores como Charles Sherrington (1857 a 1952), Edgar Adrian (1899 a 1977), Alan Hodgkin (1914 a 1998), Andrew Huxley (1917), Bernard Katz (1911 a 2002) e mais recentemente, Eric Kandel (1929).
Graças às pesquisas destes cientistas , dentre outros, sabemos os mecanismos biológicos do pensamento. A transmissão dos impulsos nervosos, através de um circuíto de neurônios, permeada pela transmissão química (neurotransmissores) entre um neurônio e outro (fenda sináptica), é traduzida a um pensamento, podendo este ser uma emoção, um sentimento, uma análise de um estímulo externo, etc.
Bem, e em relação à consciência, qual a sua definição? Qual a sua relação com o pensamento?
Para começar, a definição de consciência é bastante ampla e discutível. Avaliando como neurocientista, acho que uma boa definição para consciência é a seguinte: a capacidade de me reconhecer como ser individual e de reconhecer o ambiente que me rodeia. É o reconhecimento do "eu próprio" neste exato momento, conhecendo precisamente os limites de minha individualidade.
Quero aqui, exaltar a idéia de que a consciência se manifesta através de pensamentos: "aqui estou eu e este é o ambiente que me cerca". Portanto, quando me refiro à consciência, me refiro ao pensamento de estar consciente. Ao analisar a consciência, acabo por analisar o funcionamento fisiológico do cérebro, que através do tráfego dos impulsos elétricos pelos circuítos cerebrais do neocórtex, determinam um pensamento.
Existem na atualidade, métodos científicos de imagens, como a ressonância magnética funcional e a tomografia por emissão de pósitrons, que são capazes de mapear os caminhos dos impulsos elétricos neuronais durante um determinado pensamento de forma bastante precisa. A ativação desta via neuronal específica para este pensamento em particular é completamente reprodutível na mesma pessoa e também em outras, mostrando um padrão inequívoco de ativação de circuítos neuronais para cada pensamento. Quanto mais complexo o pensamento, mais neurônios estarão envolvidos na circuitaria neuronal naquele instante.
Portanto, seguindo os paradigmas da neurociência atual, teríamos que associar a consciência exclusivamente com a atividade cerebral. Sendo assim, podemos concluir que quando um ser humano é submetido a uma agressão extrema, a ponto de suas células cerebrais não mais receberem o aporte adequado de substâncias vitais, como oxigênio e glicose, havendo a perda da capacidade seletiva da membrana das células cerebrais, com influxo de substâncias tóxicas e consequente perda irreversível de função do neurônio (morte), a consciência individual não mais existirá, pois o único responsãvel pela mesma não mais funcionará (o cérebro). Caracteriza-se assim a morte, sem a menor chance da consciência ter algum tipo de continuidade. Seria o fim completo, total e irreversível do ser humano como ser individual.
A visão da ciência é chamada por muitos de reducionista (visão que acopla a consciência exclusivamente à atividade cerebral). O reducionismo faz oposição ao chamado dualismo, que separa cérebro e mente em entidades distintas. O dualismo é desprovido de qualquer comprovação das ciências e encontra-se distante anos luz das metodologias rígidas de comprovação científica, pertencendo à esfera religiosa.
Esta visão materialista e reducionista que determina os caminhos científicos a serem percorridos, muito mudará num futuro não muito distante. Afinal, existe um "gap" a ser preenchido entre atividade cerebral e a consciência experimentada em sua plenitude. Os cientistas sabem disto e também sabem que a ciência não para de avançar. Este ponto no caminho científico em que nos encontramos está distante de uma explicação totalmente satisfatória para a consciência, porém acredito que a ciência é o grande meio para explicar os fenômenos com racionalidade, nos cercando daquilo que é palpável e não nos deixando ao relento do completo subjetivo.
Sempre é bom lembrar que a física/mecânica quântica é um ramo da ciência que muito tem evoluído e aos poucos tem feito parte das discussões neurocientíficas. A consciência tende a ser menos discutida do ponto de vista macroscópico e seguir cada vez menos as regras da física clássica quadridimensional.
Possivelmente, àquele "gap" ao qual me referi, seja preenchido pela mecânica quântica. A abordagem da formação da consciência deverá seguir o caminho do distanciamento do macroscópico e aprofundar-se no mundo quântico, observando movimentos iônicos através das membranas neuronais, talvez almejando o conhecimento de múltiplas dimensões como na ciência quântica.
Aprofundando-se neste campo diferente de estudo, passando-se talvez algumas décadas, os paradigmas da ciência serão diferentes, como sempre acontece graças aos métodos de comprovação e refutação de teorias através de experimentos, e assim poderemos ter explicações mais precisas dos mecanismos geradores da consciência individual.

Dr. Milton C. R. Medeiros.

domingo, 2 de agosto de 2009

Visão Geral Sobre a Morte.



Estou trabalhando em um novo livro, cujo título, a princípio será "Dissecando a Morte". Trata-se de um assunto repleto de tabus. De maneira geral é um tema evitado, em virtude do medo que carrega consigo. Afinal, apesar da morte ser uma certeza, não há certeza em relação ao que se seguirá após o término do funcionamento de nossos cérebros. Tenho investigado as visões religiosas, além de explorar as visões científicas em seus vários setores, como o biológico e o relacionado à física quântica.

Do ponto de vista neurológico, seguindo a corrente científica dominante no momento, o cérebro é o responsável pela consciência em sua definição mais plena, ou seja, o funcionamento fisiológico cerebral leva à consciência. Acreditando cegamente nas determinações científicas aceitas, assim que o cérebro cessa seu funcionamento, a consciência deixa de existir. É o fim do indivíduo. Sem o seu cérebro funcionante, não haverá mais sentimentos, emoções, sofrimentos ou prazeres. É uma visão que nos mostra pontos positivos e negativos. A parte negativa seria a finitude completa de nossa existência, já que nosso reconhecimento como indivíduo depende do funcionamento cerebral. Nossa existência passa a ser curta em demasia e muito trabalho teremos para encontrar o "sentido da vida". Cada um deverá fazer sua busca desenfreada e os mais afortunados poderão encontrá-la.

A parte positiva da visão da finitude da existência acoplada ao fim da atividade cerebral é a certeza de que todos os sofrimentos cessarão com a morte. Considerando a visão de Schopenhauer, em que a vida é repleta de dores e sofrimentos, sendo a felicidade apenas quimérica e fugaz, o estado de "não ser" a que se refere o filósofo, é bastante confortável.

Somando-se a isto, a convicção da finitude nos faz viver intensamente a vida, aproveitando cada instante, exaltando os bons momentos e minimizando os maus. O hedonismo poderá estar presente com mais frequência no nosso trajeto rumo ao fim.

Em relação à visão religiosa sobre a morte, tenho feito várias pesquisas. Considerando as principais religiões conhecidas, em comum observamos a promessa de que a morte não é o fim. Elas determinam regras para que se possa ter uma existência após a morte com melhor qualidade. Algumas, como o Judaísmo, o Catolicismo e o Islamismo acreditam em um ser superior julgador, que ao término de nossas vidas terrenas irão avaliar nossos atos e então decidir que tipo de existência teremos. Já o Budismo, não apresenta o "ser superior julgador", mas coloca no exercício do livre arbítrio o fator determinante para a qualidade de "vida pós morte"que teremos. Tal conclusão remonta-nos ao "Existencialismo Sartriano", em que o ser humano deve exercer o seu livre arbítrio e assumir as consequências desse exercício perigoso, porém fundamental.

Um mundo a parte e totalmente fascinante é o da física quântica. Um mundo onde as leis de Newton, precisas em suas previsões, não se aplicam. Um mundo, além do nosso poder de observação cotidiana, onde não se pode prever os movimentos de partículas, onde um elétron pode estar presente em dois lugares ao mesmo tempo, onde quantas de luz podem se comportar como ondas e partículas em um mesmo experimento, onde duas partículas separadas "comunicam-se" instantaneamente apesar de estarem separadas por milhares de quilômetros, mantendo informações simultâneas que se transmitiriam em velocidades muito superiores à velocidade da luz. Um mundo que vem sendo explorado e que poderá, em um futuro próximo, nos levar a novas teorias sobre a consciência individual e a possibilidade de continuarmos existindo em essência "noutras dimensões" em "mundos paralelos".

Não espero chegar a conclusões inquestionáveis ao término de meu livro, porém conseguirei conhecer mais sobre o assunto "morte"e nas discussões com os meus futuros leitores, aprofundar-me nos vários aspectos a serem discutidos.


DR. MILTON C. R. MEDEIROS.

sábado, 2 de agosto de 2008

Automotivação



A automotivação é um componente importantíssimo na composição da inteligência emocional. Sua falta pode determinar um estado de infelicidade crônica, abrindo caminhos indesejáveis, que quando trilhados levam à depressão.
A automotivação é um "impulso" que surge em decorrência de uma necessidade, levando a uma mudança de comportamento. Esta "necessidade" pode apresentar-se em vários níveis, desde necessidades primárias, como sede e fome, até necessidades mais complexas, como posição de respeitabilidade social, liderança, crescimento intelectual, estabilidade emocional, etc.
O impulso para a satisfação das necessidades mais básicas surge sem esforço intelectual. Por exemplo, se temos fome, a falta de glicose sanguínea determina alteração funcional hipotalâmica, liberando substâncias químicas ativas em área cerebrais, levando à necessidade de alimentar-se.
Portanto, este impulso surge naturalmente, sem precisar de esforço racional (neocórtex).
Porém, muitas vezes, as necessidades humanas são complexas. Sente-se a necessidade, porém não se consegue gerar o impulso para satisfazê-la. Qual a solução para resolver um problema tão incômodo? Bem, primeiro surge a necessidade do "insight". A interiorização, através de uma auto-avaliação minuciosa, poderá mostrar a real fonte do sentimento de necessidade. Este é o primeiro passo para conseguir definir qual impulso temos que gerar.
Após este exercício inicial, deve-se tomar "as rédeas de nossas conexões neuronais". O impulso pode ser gerado no neocórtex, ou seja, de maneira consciente e racional inicia-se uma mudança de comportamento no sentido de satisfazer a necessidade em questão. Este impulso racional muda a qualidade de vida para melhor. Estas vias neuronais podem ser ativadas de maneira "voluntária".
Quando os românticos dizem que a felicidade está dentro de cada um, estão fazendo uma afirmação que encontra respaldo nos achados científicos. Pode-se tirar a sensação de falta de plenitude da vida. Basta querer. É uma questão de atitude e mudança de postura. Lembre-se que vias neuronais ativadas de maneira repetitiva passam a funcionar quase que de maneira reflexa.
A automotivação é importante para alcançar um objetivo. Tal objetivo não necessariamente precisa ser um fim em si mesmo. O mais importante é justamente exacerbar o prazer nos atos que levarão ao objetivo final. Então o objetivo poderá ser este, ou seja, dar cada passo com grande maestria, fazendo o melhor que pode e aprendendo a sentir prazer mesmo nos menores atos, rumo ao prêmio final, que se não vier, já valeu a pena pelos bons momentos proporcionados no dia-a-dia.
Quase que diariamente, observo a cópia de um quadro de Salvador Dali que tenho em minha casa (A Menina na Janela - 1925). Trata-se de uma obra maravilhosa, levando qualquer um que a contemple a uma ampla divagação filosófico-estética.
Fico imaginando como Savador Dali sentia-se na confecção deste quadro. Certamente deve ter tido uma sensação de felicidade ao concluir a obra. No entanto, o segredo fisiológico-emocional para a exaltação da felicidade, mesmo que fugaz, seria a alegria e o prazer de dar cada pincelada com tamanha competência. Isto é ampliar os vários momentos felizes da vida.
O cérebro humano é extremamente poderoso e de maneira consciente e racional podemos interfirir de maneira positiva em nosso sistema límbico, sentindo alegria e a ampliando nas realizações do cotidiano.
Concluindo, a automotivação está ao alcance de todos que se esforçarem.

Obs: Pintura - A Menina na Janela - Salvador Dali - 1925

Dr Milton C. R. Medeiros.

sábado, 28 de junho de 2008

Estado de Fluxo


Já escrevi anteriormente a respeito da capacidade de atenção plena e das possibilidades biológicas da melhora na qualidade de observação.
A grande capacidade de concentração pode levar o ser humano ao chamado estado de fluxo. É sem dúvida um momento que transcende o real.
Tal estado é caracterizado pela dedicação total àquilo que se está fazendo. Há objetivos claros, um alto grau de concentração em um limitado campo de atenção. Poderá ocorrer até a perda do sentimento de auto-consciência. Existe uma sensação de controle total sobre àquela atividade que se está realizando.
A atividade é tão agradável que por si só já é recompensadora.
No estado de fluxo, o indivíduo torna-se parte da atividade. As vias neuronais são ativadas nas áreas da motricidade, sensibilidade e regiões responsáveis pela emoção com um objetivo único, permitindo a concentração infalível. Tudo se resume ao que se faz naquele momento.
Qualquer pessoa é capaz de experimentar esta sensação quando desenvolve uma atividade muito agradável. O mais interessante é que pode-se desenvolver a capacidade de chegar ao estado de fluxo mesmo quando se realiza atividades rotineiras. Portanto, além da necessidade de entrar em estado de fluxo nas atividades agradáveis, uma espécie de meditação, quando nada mais está em nossa consciência, pode-se fazer um esforço para o desenvolvimento da capacidade de entrar nesse estado naquelas atividades não tão agradáveis. Se conseguir, elas então passarão a ser prazerosas.
Então, procure entrar em estado de fluxo com mais freqüência em sua vida. Ela ficará, no mínimo, mais interessante.


*Foto de um lance do jogador Careca, grande artilheiro que jogou no São Paulo, Nápoli e Seleção Brasileira. Indivíduo com capacidade de concentração extrema durante uma partida de futebol. Certamente um grande exemplo de sucesso pela capacidade de entrar em estado de fluxo.

Dr. Milton C. R. Medeiros.

terça-feira, 3 de junho de 2008

O Poder da Observação.



O sistema nervoso humano tem sua estrutura de maneira a encontrar-se preparado para a percepção e a conseqüente compreensão dos fenômenos que nos cercam. A observação atenta daquilo que nos rodeia deve ser feita de maneira a permitir o aproveitamento próprio das coisas boas, por menor que elas sejam. A boa capacidade de observar pode ser desenvolvida, a princípio com algum esforço e após o treinamento repetitivo dos órgãos sensoriais, nossas sensações ficarão mais apuradas (olfato, tato, visão, gustação, audição).
Pode-se passar a observar fenômenos de extrema beleza que antes eram ignorados.
Fenômenos da natureza observados e avaliados atentamente poderão mostrar o sublime, algo tão belo que faz com que nos sintamos numa outra dimensão, nos integrando de maneira completa ao universo, nos fazendo perder temporariamente o senso de individualidade.
O sublime só poderá ser presenciado pelos portadores de um cérebro privilegiado, com muitas vias neuronais ativas. Poderá ser presenciado não apenas mediante os fenômenos da natureza, mas também na contemplação do muito belo, como, por exemplo, numa obra de arte.
Então, comece imediatamente a desenvolver sua capacidade de observação, afinal, belezas infinitas estão prontas a serem observadas pelo bom observador.

*Pintura de Monet.

Dr. Milton C. R. Medeiros.

terça-feira, 13 de maio de 2008

A Capacidade da "atenção Plena".







Ouve-se com freqüência a afirmação aceita cientificamente de que usamos apenas uma pequena capacidade de nossos cérebros. Por que isto acontece? Pode-se fazer alguma coisa para mudar isto?
Bem, como já comentei noutros textos, os pensamentos são as traduções de reações bioquímicas trafegando por diferentes vias neuronais. Portanto, usa-se em demasia algumas vias, enquanto outras não são ativadas. Via de regra, o ser humano é rotineiro em sua maneira de pensar e de agir, havendo mudanças ao longo do tempo de maneira contínua, porém vagarosa. Estas mudanças são as manifestações da ativação de novas vias neuronais. A principal conseqüência da ativação de outras vias é certamente um aumento da capacidade de adaptar-se a diferentes circunstâncias da vida. A capacidade de resolução de problemas é aumentada, afinal seremos capazes de usar mais áreas cerebrais para uma melhor análise da situação. Poderemos navegar interiormente (no cérebro) e termos uma visão ampla dos acontecimentos.
O indivíduo intelectualmente bem dotado, de maneira geral, muda suas opiniões, sem que por isso deixe de ser valorizado, já que as opiniões anteriores ainda são importantes para a resolução de problemas. Seus estudos profundos e de assuntos variados o faz camaleão, sem contudo perder sua originalidade.
Então, para usar o cérebro de maneira mais próxima da plena, deve-se aprofundar os conhecimentos em várias áreas diferentes em relação aos mais variados temas (literatura, arte, política, etc). Esta é a maneira mais eficaz de exercitar o principal órgão do corpo humano.
*Pintura de Caspar David Friedrich - Saída da Lua Sobre o Mar - 1822.

Dr. Milton C. R. Medeiros.



quarta-feira, 30 de abril de 2008

"Insight".


A chamada inteligência emocional pode e deve ser desenvolvida por todos. Trata-se da ativação de vias neuronais relacionadas às boas atitudes da vida. A princípio estas vias são ativadas com algum esforço consciente, ou seja, ativando o neocórtex (área cerebral filogeneticamente mais recente e responsável pela consciência e racionalidade), e após repetidas vezes da boa ação emocional ser realizada, acabará por acontecer espontaneamente, não custando esforços.
O primeiro passo é o treinamento do "insight". Fazemos isso olhando para o nosso interior, analisando profundamente nossas emoções e sentimentos, provocados por determinado estímulo. Esta atitude do entendimento, pelo menos parcial, das sensações emocionais próprias, nos proporciona uma melhor administração das emoções. Esta capacidade se dá pelas conexões neuronais ligando neocórtex às áreas relacionadas às emoções, como amigdala cerebral, giro do cíngulo, hipocampo, área pré frontal. Tais conexões, sendo usadas com freqüência, ficarão hiperativadas e passarão a fazer parte efetiva do comportamento individual. Nas próximas postagens escreverei sobre outros componentes da inteligência emocional.
(foto: escultura "O Pensador"- de Auguste Rodin).

Dr. Milton C. R. Medeiros.

Neurologista. Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Relação Entre as Emoções e o Processo de conhecimento.



A cognição é constituída pela atenção, percepção, memória, juizo, raciocínio, imaginação, pensamento e discurso.
Estes diferentes compostos da cognição são fortemente influenciados pelas emoções e sentimentos passados e presentes. A relação razão-emoção, que antes era ignorada no papel da formação da cognição, hoje é considerada como evento importante na construção do conhecimento humano.
Se observarmos o juizo, um dos principais componentes da cognição, definido como a capacidade cerebral de afirmar ou negar diferentes conteúdos sobre um determinado tema usando a racionalidade individual, pode-se afirmar que ele será influenciado por emoções e sentimentos. O medo ou a insegurança provocado por algum evento no passado relacionado ao assunto em questão, armazenado na amigdala cerebral, influenciará para que haja um julgamento negativo em relação a este determinado tema. Por outro lado, o julgamento será positivo se o tema trouxer lembranças agradáveis.
Portanto, a racionalidade no papel da construção do conhecimento humano é fortemente influenciada pelas emoções e sentimentos.
No processo de aprendizagem, que dura toda a vida, deve-se buscar maneiras agradáveis de aprender. Desta forma poderá haver uma fixação mais consistente no nosso sistema de memória do assunto em estudo.
Qualquer aprendizado que se obtenha com insuficiente emoção ou sentimento, não será armazenado por longos períodos pelos lobos temporais. Se leio um livro que não me agrada e apenas por algum tipo de obrigação, certamente terei dificuldades em armazenar as informações nele contidas. Já quando leio um assunto que me interessa, altamente agradável, as informações são impregnadas em meu cérebro e passam a ser parte do meu "banco de memórias", podendo ser usadas num momento de dificuldades, na resolução de problemas. Então, este livro contribuiu para a minha inteligência, como já discutido em postagem anterior.
Concluo dizendo que emoções e sentimentos, que são controláveis e mutáveis conforme discutiremos no futuro, influenciam de maneira extremamente importante no processo cognitivo humano.
* (figura da postagem: provável auto-retrato de Leonardo da Vinci, protótipo da inteligência humana).


Milton C. R.Medeiros.
Neurologista e Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Sistema Límbico, Neocórtex, Hipotálamo.












Sistema límbico tem definições amplas e bastante controversas. De um modo geral, quando se fala em sistema límbico, estamos nos referindo às emoções e/ou sentimentos. Para num futuro próximo discutirmos a administração das emoções, primeiro teremos que conhecer um pouco sobre este sistema, além de uma básica noção de neocórtex, hipotálamo e hipófise.
O neurocientista Paul MacLean , na década de 40, desenvolveu pesquisas e aprofundou o conhecimento na área da fisiologia emocional. Seus experimentos sugeriam que estímulos elétricos no giro do cíngulo, amígdala e hipocampo (áreas localizadas medialmente no cérebro), produziam reações autonômicas (coração acelerado, sudorese, extremidades frias, pupilas dilatadas, aumento dos movimentos intestinais, aumento da freqüência respiratória), reações estas presentes nos momentos das emoções. Estas estruturas apresentam como função a ligação entre os locais que detém o domínio da cognição (neocórtex) e o hipotálamo, responsável bioquimicamente pela resposta emocional.
As áreas do sistema límbico funcionam mediante transmissão de impulsos nervosos como todo o restante do sistema nervoso. Estes impulsos elétricos são transmitidos de um neurônio para outro através de susbstâncias químicas (os neurotransmissores). Estes impulsos trafegam através de vias (circuitos neuronais), que determinam nossas emoções.
O neocórtex, que não faz parte do sistema límbico, é o local no cérebro relacionado à racionalidade. É a área que teria se desenvolvido por último na escala evolutiva animal.
O hipotálamo é a área do sistema nervoso que comanda a liberação hormonal de uma glândula chamada hipófise, também localizada no interior da caixa craniana. Esta glândula é a principal responsável pela liberação de substâncias relacionadas às sensações emocionais.
Agora, conhecendo as definições e funções básicas de neocórtex, sistema límbico, hipotálamo e hipófise, poderemos em postagens posteriores , discutirmos em moldes um pouco mais aprofundados, o funcionamento cerebral.
Lembrem-se que o poder é uma das principais conseqüências do conhecimento.

Milton C. R. Medeiros.
Neurologista e Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.







terça-feira, 1 de abril de 2008

Conceitos para inteligência.


Quando alguém diz que sou inteligente, isto me torna mais alegre. Mas afinal, como definir inteligência?
Como definição generalista, eu diria que inteligência são as capacidades de observação, apreensão e memorização dos fenômenos que nos cercam, mas principalmente o poder de correlacionar estas capacidades de maneira aleatória para a resolução de problemas, sejam eles quais forem.
Os métodos de mensuração da inteligência são subjetivos, pois nenhum é capaz de avaliar todas as suas nuances. O mais conhecido é o teste de Quoeficiente de Inteligência (QI). Este avalia o raciocínio lógico-matemático e a fluência verbal.
Recentemente, a neurociência vem aprofundando-se na chamada inteligência emocional. Esta diz respeito à capacidade de autoconhecimento, empatia, capacidade de relacionamento com o próximo e boa administração das próprias emoções.
Um indivíduo de alto QI, porém com pouca inteligência emocional, poderá ter menos sucesso na vida que uma pessoa de QI não tão alto, porém com boa inteligência emocional. Então, definir alguém como "inteligente" apenas por possuir um alto QI não parece algo plausível.
Há teorias que compartimentalizam a inteligência. Como exemplo podemos observar um craque no futebol com dificuldades imensas de expressar-se com palavras. Ele é dono de uma grande capacidade de controle motor e tem uma ótima função visuoespacial. Portanto, áreas cerebrais com grande desenvolvimento. Dentro do campo será capaz de resolver os problemas contidos num jogo de futebol com grande maestria. Já na hora da entrevista...
Este jogador de futebol é inteligente? Bem, se considerarmos a definição generalista de inteligência que coloquei no início, sim, ele é inteligente.
Um outro exemplo interessante é o do grande escultor e arquiteto de Roma, Bernini. Fez obras-primas na arquitetura como o projeto da cúpula da catedral de São Pedro, esculturas maravilhosas como a de Santa Tereza Dávila. Também fez um busto de Constanza Buonarelli (foto acima), sua noiva. Esta última obra é de rara beleza, mostrando todo o desenvolvimento do córtex cerebral motor do autor e excelente memória visual.Quem ousaria dizer que Bernini não foi inteligente? Porém, este mesmo Bernini foi capaz de "retalhar"com uma navalha o rosto de sua amada Constanza após uma crise de ciúmes. Ora, e a capacidade de autocontrole emocional do nosso gênio da arte, onde estaria? Isto nos mostra que o seu sistema emocional (sistema límbico), não era desenvolvido, ou seja faltava inteligência emocional para Bernini.
Seria possível Bernini ter desenvolvido sua inteligência emocional tanto quanto desenvolveu a sua inteligência para a arte? Seria possível o jogador de futebol desenvolver a sua capacidade de fluência verbal?
Tentarei mostrar em postagens posteriores que sim.
Poderemos discutir a respeito de ativações de vias neuronais, determinando as capacidades individuais e mostrando neurofisiologicamente que podemos desenvolver qualquer tipo de inteligência, em especial a emocional.
Aguardo os comentários para definir o próximo tema para postagem.

Milton Medeiros.
Neurologista. Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

terça-feira, 25 de março de 2008

Conceitos de Emoções e Sentimentos.


Para continuarmos as discussões sobre fisiologia emocional e equilíbrio razão-emoção, torna-se importante as definições sobre emoções e sentimentos. Toda definição, seja sobre qual assunto for, é difícil, pois qualquer fenômeno ou objeto é composto de fartos componentes subjetivos. Imaginem então definições sobre emoções e sentimentos, cujos constituintes são completamente subjetivos.
Apesar das dificuldades, tentarei dar significado para algumas palavras relacionadas à virtualidade, afinal as palavras sentimento, afeto e emoção não podem ser usadas como sinônimos.
Afeto vem do latim "affectus", significando atingir , abalar, afligir. É um conjunto de fenômenos psíquicos acompanhados da sensação de prazer ou dor, alegria ou tristeza. Então, para a surpresa de muitos, afeto não está sempre relacionado às impressões positivas.
As emoções caracterizam-se pela súbita ruptura do equilíbrio afetivo. Geralmente são de curta duração e estão associados à perda da capacidade de agir com plena racionalidade. As emoções sem controle "engolem" a capacidade de agir com coerência.
Os sentimentos, pela minha definição, são estados afetivos mais duráveis e estáveis. São causadores de vivências menos extremas, com menores repercussões sobre as funções orgânicas.
Saliento que sentimentos podem ser originários de emoções primárias. Por exemplo, a emoção do pânico como susto, espanto ou terror, impetrando o sentimento de desconfiança ou insegurança.
Conhecendo estes conceitos estamos prontos para, na próxima postagem, discutirmos sobre a capacidade de autocontrole diante de situações complexas relacionadas às emoções e sentimentos.
Milton Medeiros.

terça-feira, 18 de março de 2008

Por que Conhecer as Funções Cerebrais Relacionadas às emoções?


Acho indiscutível a seguinte frase: "o conhecimento é precedente incondicional da boa realização". Para desempenhar uma boa função em qualquer área das inúmeras atividades humanas, faz-se necessário o estudo dos detalhes do funcionamento daquela área em específico.
A área emocional é a mais presente e mais complexa a ser conhecida. Poderemos discutir, em postagens posteriores, a fisiologia emocional de maneira simplificada, acessível inclusive aos que não são especialistas nas ciências neurológicas ou psicológicas.
Para começar, é necessário enfatizar que as emoções e sentimentos acontecem em decorrência de reações químicas convertidas em impulsos elétricos cerebrais. A neurociência está distante do conhecimento completo de todos os acontecimentos fisiológicos do cérebro. Porém, já sabemos o bastante para conseguirmos mudanças para melhor no aspecto emocional e conseqüentemente no aspecto orgânico, resultando em melhor qualidade de vida. Qualquer pessoa pode evoluir emocionalmente e sem ajuda direta de outros, bastando um melhor autoconhecimento. Falo de conhecimento fisiológico e a partir disto, a capacidade de ativação de diferentes vias neuronais para mudanças de atitudes frente aos problemas.
Então, é possível estruturar-se emocionalmente, primeiro conhecendo mais sobre a fisiologia emocional, depois entendendo o funcionamento orgânico nas situações de "tempestade emocional" e por fim, buscar a harmonia razão-emoção.
A tendência científica atual é a valorização desta harmonia. Este paradigma é relativamente recente.
Na maior parte da história humana houve uma supervalorização da chamada racionalidade, deixando a emoção como sendo sinônimo de "fraqueza". Platão, por exemplo, dizia que as paixões nada mais eram que bestas selvagens tentando abandonar o corpo. Ele defendia a idéia de que os deuses teriam plantado a semente divina no cérebro dos humanos, permitindo o raciocínio.
Descartes entrou para a história da filosofia com a sua famosa frase "penso, logo existo". Enfatizava a separação razão-emoção, atribuindo superioridade do racional sobre o emocional.
Kant também dava superioridade a razão e dizia da impossibilidade do encontro da racionalidade com a felicidade. Afirmava que se Deus tivesse criado o homem para ser feliz, não o teria dotado de razão, além do mais, definia paixões como "enfermidades da alma".
Esta visão dicotômica prevaleceu por muito tempo e ainda encontra força em algumas sociedades contemporâneas.
Jean Piaget, já no século XX, começou os questionamentos sobre esta dicotomia.Afirmava que razão-emoção são diferentes em natureza, mas inseparáveis em todas as ações humanas. Toda ação que se pratica tem em si um aspecto cognitivo e um aspecto emocional. A emoção seria a energia pela qual a cognição funciona.
Henri Wallon, contemporâneo de Piaget, publicou muitos trabalhos advogando a harmonização razão-emoção. Tentou compreender as emoções, dando-lhes papel fundamental na evolução da consciência individual. A formação intelectual dependeria das construções afetivas.
Atualmente existem inúmeros estudos focados nos conteúdos emocionais cerebrais. A falta de crença na relação funcionamento orgânico-atividade emocional está desaparecendo, mesmo entre os mais conservadores, pois as evidências científicas são muitas e irrefutáveis.
Poderemos discutir estes estudos em outras postagens deste blog.
Então, " viva " à harmonia razão-emoção!!
Milton Medeiros.

sábado, 15 de março de 2008

Por que filosofia neuronal?



Dr. Milton C. R. Medeiros.
Neurologista.
Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

O objetivo deste blog é discutir sobre o nobre ato de pensar. Tal ato, característica suprema do ser humano, ocorre através de reações bioquímicas cerebrais. Atualmente temos conhecimentos profundos a respeito da fisiologia cerebral e podemos modificá-la quando isso puder trazer mudanças adequadas às pessoas. Estas mudanças podem ser feitas através de medicamentos ou através de alterações reacionais perante às diferentes circunstâncias da vida.
Recentemente escrevi um livro, intitulado Visão Geral de Um Médico, Aspectos Fisiológicos, Filosóficos e Históricos (ed. Quártica - 2007). Lá discuto a relatividade da "verdade", como ela não é absoluta e como muda com o passar do tempo, a depender dos momentos em que se vive em relação a aspectos sociais, econômicos, religiosos, etc. Esta relatividade da verdade vigente é determinada pela capacidade de plasticidade cerebral, ou seja, pela capacidade de ativação de diferentes vias neuronais em detrimento de outras. Portanto, nossas convicções podem mudar com o passar do tempo. A natureza, observada amplamente, é caracterizada principalmente pela mutabilidade. O ser humano não é excessão. Todas as células de nosso corpo são substituídas com o tempo, algumas com ciclos mais rápidos, como a pele, outras com ciclos mais lentos, como as células do sistema nervoso. Mas no final tudo é mutável. Nossas idéias também o são. Como dizia o filósofo da Grécia antiga, Heráclito, o mundo vive em constante mutação. Dizia que não podíamos entrar no mesmo rio 2 vezes, pois a água que toca nossa pele na segunda vez já não é a mesma que tocou na primeira.
Os questionadores acabam por levantar dúvidas sobre as chamadas "verdades absolutas". Podem ser pressionados em virtude de suas posturas e até marginalizados. Porém, graças a estas posturas é que a humanidade evolui, já que toda grande mudança vem ás custas do descontentamento daqueles satisfeitos com a situação vigente. Estes, certamente, tem o domínio das opiniões daquele dado momento. São os possuidores do poder, pois suas habilidades, conhecimentos e convicções são hipervalorizados. O questionador sofrerá as conseqüências de sua audácia. Só o idealista consegue as mudanças, sempre pagando um alto preço pessoal pela conquista, preço este cobrado pelo homem medíocre, descrito por Ingenieros em "O Homem Medíocre"(livraria do chain editora - Curitiba). Este último é caracterizado pela acomodação, aceitação incondicional dos " dogmas" determinados pela sociedade, seja em qual aspecto for. O homem medíocre tem uma menor plasticidade neuronal, uma dificuldade maior de ativar diferentes áreas cerebrais. Sua única vantagem é estar em grande maioria na população. Os idealistas são apenas uma minúscula parte, e cabe justamente a esta pequena parcela da humanidade a pesada tarefa da evolução intelectual.
Este blog tentará mostrar como podemos utilizar melhor nossos cérebros, como ativar diferentes circuítos neuronais e podermos revolucionar nossas vidas, afinal, o conhecimento tem como principal conseqüência o poder. Se conhecermos melhor o funcionamento de nossos próprios cérebros e conseqüentemente o dos outros, poderemos transformar nossos ambientes de convívio em lugares melhores.
Milton Medeiros.