sábado, 26 de novembro de 2011

AMOR E O CÉREBRO





Terminei meu livro sobre a morte (DISSECANDO A MORTE), já em fase de edição pela editora Scortecci. Deverá ser publicado ainda este ano. Antes de escrever tal livro, postei o tema no meu blog para sentir a reação das pessoas que lessem a postagem. O "feedbach" foi bastante interessante. Algumas pessoas comentaram no blog e várias outras leram e discutiram pessoalmente comigo.Isto me ajudou muito na confecção do livro.
Agora estou a procura de um tema para trabalhar no meu próximo livro e já que escrevi sobre a morte, um tema de importância extrema e bastante "pesado" do ponto de vista psicológico, por que não escrever um sobre o amor? Óbvio que pesará minha visão neurofisiológica sobre o tema, mas não ficarei restrito a este espectro. Talvez explore a parte antropológica, histórica e filosófica.
Muitos estudos foram feitos ou estão em andamento sobre o cérebro e o amor.As alterações bioquímicas que ocorrem no cérebro dos apaixonados estão sendo cada vez mais conhecidas.
O amor é uma experiência que consome, que nos torna eufóricos, que vem acompanhado de sofrimentos profundos. Nos tira a fome, o sono e a capacidade de concentração profunda em qualquer outro assunto. Só a pessoa amada nos importa. É algo realmente "insano", pois não se avalia as consequencias de viver este sentimento. A racionalidade fica em segundo plano, tudo que importa é a conquista daquele ser inspirador. Os "doentes de amor" estão realmente doentes. Estudos mostram que as alterações bioquímicas encontradas nos cérebros de pessoas apaixonadas são semelhantes às alterações encontradas nos pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo. Há um baixo nível do neurotransmissor chamado serotonina. Talvez esta alteração tenha relação com a obsessão pela pessoa amada. As substâncias aumentadas nos cérebros dos apaixonados são a ocitocina e a dopamina. Os pesquisadores da Universidade de Cornell, em Nova Yorque, após analisar uma série significativa de pessoas apaixonadas, observaram que estas alterações biológicas importantes têm prazo de validade: 18 a 30 meses. Após tal período, os níveis de neurotransmissores começam a voltar para patamares normais e, infelizmente, o arrebatamento começa a reduzir em intensidade. Portanto, teria o amor verdadeiro, prazo para terminar? Será que Schopenhauer tinha razão quando dizia que o amor é apenas um truque evolucionário, relacionado apenas à perpetuação da espécie? Ele também dizia que assim que os apaixonados cumprissem suas "funções fisiológicas" de cópula e reprodução, o amor já não mais seria o mesmo e, geralmente, desapareceria.
Antropologicamente falando, o homem das cavernas se sentia obcecado pela fêmea escolhida e buscava pelo acasalamento. Posteriormente, a fêmea tinha importância na vida do macho pelo fato da mesma poder cuidar de sua prole. O macho tinha valor na vida da fêmea por lhe dar proteção e trazer a caça. Portanto, a paixão exultante e o amor resultante teriam a função da perpetuação da espécie.
Discutindo o amor desta forma, realmente, fica algo mecanicista demais. Todos nós precisamos acreditar que o amor transcende. Que a pessoa amada é realmente nossa alma gêmea e como não conseguimos quantificar o amor, mesmo que tenhamos vivido vários no decorrer de uma vida, todos são importantes e inesquecíveis. No entanto, parece que o mais sublime é o último. Portanto, sempre à procura do verdadeiro e definitivo amor. Talvez ele realmente exista e Schopenhauer tenha se equivocado redondamente.Quem sabe as alterações bioquímicas não sejam apenas um epifenômeno desta sensação que viria de uma dimensão inatingível? É um tema apaixonante (desculpem-me pela redundância) e envolto em mistérios, sem respostas definitivas.
"E que viva o amor".

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Estresse, Seria Ele o Grande Mal da Humanidade?

Corte frontal do cérebro, normal à esquerda e com Alzheimer à direita.



A palavra estresse é usada com muita frequência pelas pessoas, e apesar da complexidade da definição atrelada a este termo, todos sabem do que se trata. O significado de estresse para a população geral remete a algo mau, relacionado a sofrimento físico e/ou emocional. Bem, o estresse é caracterizado pelo aumento da necessidade metabólica orgânica, sendo este aumento relacionado a fatores internos ou principalmente externos. Um exemplo de fator interno de estresse seria uma doença orgânica que demanda aporte maior de energia, e as alterações hormonais características aconteceriam independentemente do aspecto emocional da pessoa. Porém, o grande problema do mundo moderno, sendo extremamente frequente, é o estresse emocional produzido pelas exigências individuais, associadas aos relacionamentos entre seres humanos, sejam na vida profissional, sejam na vida pessoal. Os padrões do mundo atual, com o capitalismo selvagem, o neoliberalismo e a sede insasiável de lucro pelas cadeias de produção, levam à exaltação da eficiência, tendo mais valor individualmente àquele que mais produz, mesmo que isto exija um esforço acima de sua capacidade normal. As pessoas trabalham com metas extremas a serem cumpridas, sofrem pressões emocionais de seus superiores ou do próprio mercado onde competem, sendo este um carrasco que não perdoa a "ineficiência". O mundo capitalista, que mantém como premissa a massa de mão de obra reserva, pune a falta de respostas individuais com demissões ou com rebaixamento de função nos postos de trabalho, afinal existem muitos trabalhadores desempregados, esperando por uma oportunidade e dispostos a cumprirem as funções exigidas, mesmo sendo elas acima de sua capacidade. Além de exigências absurdas no campo profissional, ainda é necessário enfrentar e lidar com outros tipos de sobrecarga emocional, como a violência urbana, os serviços de saúde pública inadequados, uma educação pública de má qualidade e até as relações familiares difíceis, num modelo onde as informações são tantas, de qualidades variadas, chegando às idades cada vez mais precoces e causando grandes problemas em relação aos limites a serem impostos por pais e professores.

Enfim, como pode o estresse causar danos orgânicos às pessoas? O estresse é determinado pela exigência externa de uma resposta exacerbada, resposta esta mais intensa que a resposta habitual. Fisiologicamente, isto é caracterizado pela conscientização da exigência pelo nosso neocórtex, mandando então informações para uma região chamada hipotálamo. Esta, então, produz o fator liberador de corticotropina, que atuando na glândula hipófise facilita a liberação de ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). O ACTH cai na corrente sanguínea e chega à glândula adrenal, em sua porção cortical. Esta, por sua vez, estimulada pelo ACTH, produz o cortisol, um hormônio que altera completamente a dinâmica do corpo, aumentando o metabolismo. O cortisol, juntamente com a adrenalina, liberada pela medula da adrenal, determinará aumento da frequência cardíaca, aumento da frequência respiratória, aumento da pressão arterial e desvio do fluxo de sangue para a musculatura estriada. O indivíduo fica mais atento e mais concentrado em relação ao fator estressor. Há um aumento da capacidade física e até cognitiva. Portanto, o estresse ocasional e em quantidades limitadas é bastante interessante para o ser humano. No entanto, quando o estresse é intenso e, principalmente, frequente, começam a surgir problemas diversos, tanto na esfera orgânica quanto na esfera emocional.


Os cardiologistas já tinham mostrado a nítida correlação deste problema com as doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio. Agora chegou a vez da neurociência mostrar os mecanismos moleculares capazes de produzir doenças relacionadas à perda de rendimento cognitivo e a distúrbios de humor.

O hipocampo, estrutura cerebral localizada no lobo temporal e de extrema importância na memória, é uma vítima dos níveis elevados de cortisol. A princípio, estudos realizados em laboratório,usando camundongos, comprovaram que os indivíduos submetidos a estresse crônico aprentavam perda de células nesta estrutura, com consequente redução do volume do hipocampo. Esta alteração, tem como consequência a redução de algumas formas de memória, em especial a de curta duração e a chamada memória de trabalho.Ora, já sabemos que os seres humanos com depressão apresentam com frequência uma redução no volume hipocampal, alteração esta relacionada à dificuldade de memória nestes pacientes. Esta redução de volume do córtex hipocampal relaciona-se diretamente à falta de capacidade do hipocampo em inibir o hipotálamo em resposta ao aumento de cortisol no sangue. Como consequência, mais cortisol é produzido e mais lesão hipocampal acontece. É uma verdadeira bola de neve.

Por outro lado, a amígdala, pequena estrutura do lobo temporal, fica hiperativa e aumenta de volume nas situações de estresse, graças à ação do cortisol. Acontece que a amígdala é o local da memorização dos acontecimentos traumáticos e estressantes, e quando hiperativa, facilita as reações do estresse mesmo em situações que não mereçam tal reação.

Certamente, estudos que já estão sendo conduzidos, irão muito em breve, mostrar o estresse crônico como um fator importantíssimo para o desenvolvimento de doença de Alzheimer, assim como já é reconhecido no desenvolvimento da depressão. A doença de Azheimer, caracterizada pela deterioração cognitiva progressiva e irreversível, tem como uma das mais importantes alterações macroestruturais, a redução do volume hipocampal.

Estes estudos precisam ser divulgados na imprensa leiga e com muito destaque, pois é de suma importância que todos conheçam os males do estresse, sendo que dentre estes certamente se encontram a depressão e os distúrbios de memória. A correlação direta e inequívoca com a doença de Alzheimer certamente será provada em breve.

Portanto, o estresse é no mínimo um dos grandes males da humanidade.