quarta-feira, 30 de abril de 2008

"Insight".


A chamada inteligência emocional pode e deve ser desenvolvida por todos. Trata-se da ativação de vias neuronais relacionadas às boas atitudes da vida. A princípio estas vias são ativadas com algum esforço consciente, ou seja, ativando o neocórtex (área cerebral filogeneticamente mais recente e responsável pela consciência e racionalidade), e após repetidas vezes da boa ação emocional ser realizada, acabará por acontecer espontaneamente, não custando esforços.
O primeiro passo é o treinamento do "insight". Fazemos isso olhando para o nosso interior, analisando profundamente nossas emoções e sentimentos, provocados por determinado estímulo. Esta atitude do entendimento, pelo menos parcial, das sensações emocionais próprias, nos proporciona uma melhor administração das emoções. Esta capacidade se dá pelas conexões neuronais ligando neocórtex às áreas relacionadas às emoções, como amigdala cerebral, giro do cíngulo, hipocampo, área pré frontal. Tais conexões, sendo usadas com freqüência, ficarão hiperativadas e passarão a fazer parte efetiva do comportamento individual. Nas próximas postagens escreverei sobre outros componentes da inteligência emocional.
(foto: escultura "O Pensador"- de Auguste Rodin).

Dr. Milton C. R. Medeiros.

Neurologista. Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Relação Entre as Emoções e o Processo de conhecimento.



A cognição é constituída pela atenção, percepção, memória, juizo, raciocínio, imaginação, pensamento e discurso.
Estes diferentes compostos da cognição são fortemente influenciados pelas emoções e sentimentos passados e presentes. A relação razão-emoção, que antes era ignorada no papel da formação da cognição, hoje é considerada como evento importante na construção do conhecimento humano.
Se observarmos o juizo, um dos principais componentes da cognição, definido como a capacidade cerebral de afirmar ou negar diferentes conteúdos sobre um determinado tema usando a racionalidade individual, pode-se afirmar que ele será influenciado por emoções e sentimentos. O medo ou a insegurança provocado por algum evento no passado relacionado ao assunto em questão, armazenado na amigdala cerebral, influenciará para que haja um julgamento negativo em relação a este determinado tema. Por outro lado, o julgamento será positivo se o tema trouxer lembranças agradáveis.
Portanto, a racionalidade no papel da construção do conhecimento humano é fortemente influenciada pelas emoções e sentimentos.
No processo de aprendizagem, que dura toda a vida, deve-se buscar maneiras agradáveis de aprender. Desta forma poderá haver uma fixação mais consistente no nosso sistema de memória do assunto em estudo.
Qualquer aprendizado que se obtenha com insuficiente emoção ou sentimento, não será armazenado por longos períodos pelos lobos temporais. Se leio um livro que não me agrada e apenas por algum tipo de obrigação, certamente terei dificuldades em armazenar as informações nele contidas. Já quando leio um assunto que me interessa, altamente agradável, as informações são impregnadas em meu cérebro e passam a ser parte do meu "banco de memórias", podendo ser usadas num momento de dificuldades, na resolução de problemas. Então, este livro contribuiu para a minha inteligência, como já discutido em postagem anterior.
Concluo dizendo que emoções e sentimentos, que são controláveis e mutáveis conforme discutiremos no futuro, influenciam de maneira extremamente importante no processo cognitivo humano.
* (figura da postagem: provável auto-retrato de Leonardo da Vinci, protótipo da inteligência humana).


Milton C. R.Medeiros.
Neurologista e Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Sistema Límbico, Neocórtex, Hipotálamo.












Sistema límbico tem definições amplas e bastante controversas. De um modo geral, quando se fala em sistema límbico, estamos nos referindo às emoções e/ou sentimentos. Para num futuro próximo discutirmos a administração das emoções, primeiro teremos que conhecer um pouco sobre este sistema, além de uma básica noção de neocórtex, hipotálamo e hipófise.
O neurocientista Paul MacLean , na década de 40, desenvolveu pesquisas e aprofundou o conhecimento na área da fisiologia emocional. Seus experimentos sugeriam que estímulos elétricos no giro do cíngulo, amígdala e hipocampo (áreas localizadas medialmente no cérebro), produziam reações autonômicas (coração acelerado, sudorese, extremidades frias, pupilas dilatadas, aumento dos movimentos intestinais, aumento da freqüência respiratória), reações estas presentes nos momentos das emoções. Estas estruturas apresentam como função a ligação entre os locais que detém o domínio da cognição (neocórtex) e o hipotálamo, responsável bioquimicamente pela resposta emocional.
As áreas do sistema límbico funcionam mediante transmissão de impulsos nervosos como todo o restante do sistema nervoso. Estes impulsos elétricos são transmitidos de um neurônio para outro através de susbstâncias químicas (os neurotransmissores). Estes impulsos trafegam através de vias (circuitos neuronais), que determinam nossas emoções.
O neocórtex, que não faz parte do sistema límbico, é o local no cérebro relacionado à racionalidade. É a área que teria se desenvolvido por último na escala evolutiva animal.
O hipotálamo é a área do sistema nervoso que comanda a liberação hormonal de uma glândula chamada hipófise, também localizada no interior da caixa craniana. Esta glândula é a principal responsável pela liberação de substâncias relacionadas às sensações emocionais.
Agora, conhecendo as definições e funções básicas de neocórtex, sistema límbico, hipotálamo e hipófise, poderemos em postagens posteriores , discutirmos em moldes um pouco mais aprofundados, o funcionamento cerebral.
Lembrem-se que o poder é uma das principais conseqüências do conhecimento.

Milton C. R. Medeiros.
Neurologista e Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.







terça-feira, 1 de abril de 2008

Conceitos para inteligência.


Quando alguém diz que sou inteligente, isto me torna mais alegre. Mas afinal, como definir inteligência?
Como definição generalista, eu diria que inteligência são as capacidades de observação, apreensão e memorização dos fenômenos que nos cercam, mas principalmente o poder de correlacionar estas capacidades de maneira aleatória para a resolução de problemas, sejam eles quais forem.
Os métodos de mensuração da inteligência são subjetivos, pois nenhum é capaz de avaliar todas as suas nuances. O mais conhecido é o teste de Quoeficiente de Inteligência (QI). Este avalia o raciocínio lógico-matemático e a fluência verbal.
Recentemente, a neurociência vem aprofundando-se na chamada inteligência emocional. Esta diz respeito à capacidade de autoconhecimento, empatia, capacidade de relacionamento com o próximo e boa administração das próprias emoções.
Um indivíduo de alto QI, porém com pouca inteligência emocional, poderá ter menos sucesso na vida que uma pessoa de QI não tão alto, porém com boa inteligência emocional. Então, definir alguém como "inteligente" apenas por possuir um alto QI não parece algo plausível.
Há teorias que compartimentalizam a inteligência. Como exemplo podemos observar um craque no futebol com dificuldades imensas de expressar-se com palavras. Ele é dono de uma grande capacidade de controle motor e tem uma ótima função visuoespacial. Portanto, áreas cerebrais com grande desenvolvimento. Dentro do campo será capaz de resolver os problemas contidos num jogo de futebol com grande maestria. Já na hora da entrevista...
Este jogador de futebol é inteligente? Bem, se considerarmos a definição generalista de inteligência que coloquei no início, sim, ele é inteligente.
Um outro exemplo interessante é o do grande escultor e arquiteto de Roma, Bernini. Fez obras-primas na arquitetura como o projeto da cúpula da catedral de São Pedro, esculturas maravilhosas como a de Santa Tereza Dávila. Também fez um busto de Constanza Buonarelli (foto acima), sua noiva. Esta última obra é de rara beleza, mostrando todo o desenvolvimento do córtex cerebral motor do autor e excelente memória visual.Quem ousaria dizer que Bernini não foi inteligente? Porém, este mesmo Bernini foi capaz de "retalhar"com uma navalha o rosto de sua amada Constanza após uma crise de ciúmes. Ora, e a capacidade de autocontrole emocional do nosso gênio da arte, onde estaria? Isto nos mostra que o seu sistema emocional (sistema límbico), não era desenvolvido, ou seja faltava inteligência emocional para Bernini.
Seria possível Bernini ter desenvolvido sua inteligência emocional tanto quanto desenvolveu a sua inteligência para a arte? Seria possível o jogador de futebol desenvolver a sua capacidade de fluência verbal?
Tentarei mostrar em postagens posteriores que sim.
Poderemos discutir a respeito de ativações de vias neuronais, determinando as capacidades individuais e mostrando neurofisiologicamente que podemos desenvolver qualquer tipo de inteligência, em especial a emocional.
Aguardo os comentários para definir o próximo tema para postagem.

Milton Medeiros.
Neurologista. Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.