terça-feira, 15 de abril de 2008

Relação Entre as Emoções e o Processo de conhecimento.



A cognição é constituída pela atenção, percepção, memória, juizo, raciocínio, imaginação, pensamento e discurso.
Estes diferentes compostos da cognição são fortemente influenciados pelas emoções e sentimentos passados e presentes. A relação razão-emoção, que antes era ignorada no papel da formação da cognição, hoje é considerada como evento importante na construção do conhecimento humano.
Se observarmos o juizo, um dos principais componentes da cognição, definido como a capacidade cerebral de afirmar ou negar diferentes conteúdos sobre um determinado tema usando a racionalidade individual, pode-se afirmar que ele será influenciado por emoções e sentimentos. O medo ou a insegurança provocado por algum evento no passado relacionado ao assunto em questão, armazenado na amigdala cerebral, influenciará para que haja um julgamento negativo em relação a este determinado tema. Por outro lado, o julgamento será positivo se o tema trouxer lembranças agradáveis.
Portanto, a racionalidade no papel da construção do conhecimento humano é fortemente influenciada pelas emoções e sentimentos.
No processo de aprendizagem, que dura toda a vida, deve-se buscar maneiras agradáveis de aprender. Desta forma poderá haver uma fixação mais consistente no nosso sistema de memória do assunto em estudo.
Qualquer aprendizado que se obtenha com insuficiente emoção ou sentimento, não será armazenado por longos períodos pelos lobos temporais. Se leio um livro que não me agrada e apenas por algum tipo de obrigação, certamente terei dificuldades em armazenar as informações nele contidas. Já quando leio um assunto que me interessa, altamente agradável, as informações são impregnadas em meu cérebro e passam a ser parte do meu "banco de memórias", podendo ser usadas num momento de dificuldades, na resolução de problemas. Então, este livro contribuiu para a minha inteligência, como já discutido em postagem anterior.
Concluo dizendo que emoções e sentimentos, que são controláveis e mutáveis conforme discutiremos no futuro, influenciam de maneira extremamente importante no processo cognitivo humano.
* (figura da postagem: provável auto-retrato de Leonardo da Vinci, protótipo da inteligência humana).


Milton C. R.Medeiros.
Neurologista e Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

2 comentários:

Cíntia Fleisz disse...

Olá!!! Sempre pensei na relação razão-emoção, como um meio de explicação de nossas atitudes que não fosse provado pela ciência. Interessantíssimo saber que o juízo é mesmo influenciado por emoções. Entendo lembranças que podem voltar a nossa mente, como um simples perfume que pode tirar minha concentração sobre algo e trazer lembranças positivas ou negativas. Mas por outro lado penso: e os crimes que acontecem por aí, podem ser explicados assim??? Não gosto de pensar que pode ter uma explicação científica para um pai que mata um filho, porém não posso deixar de concordar com essa explicação. É óbvio que se chegou há um estágio avançado de falta de razão para cometer insanidades assim. Mas pergunto à vc meu amigo: será que nessa "insanidade" não está escondida fortemente uma habilidade emocional??? Na minha opinião a maioria sabe o q está fazendo e estão sendo bem mais espertos que os "normais"... Simplesmete AMEI esse tema e quero discuti-lo ainda mais com vc. Um forte abraço.

Milton César Rodrigues Medeiros. disse...

Olá amiga Cíntia. Obrigado pela participação efetiva neste blog. Suas colocações são muito pertinentes. Acredito que toda " insanidade" , como você coloca, é
originada pela falta do controle emocional. Os atos violentos, na maioria das circunstâncias, são um atestado de "burrice emocional", burrice esta a qual todo ser humano está sujeito.
Cabe a cada um de nós o trabalho constante de autovigilância para a adequada administração emocional. Isto é possível com a ativação voluntária do neocórtex, a região do raciocínio e consciência no cérebro. Temos pleno controle desta área, diferente do sistema límbico, onde apenas intervimos de maneira indireta através do neocórtex. Este esforço inicial e voluntário deverá ser repetidamente praticado, de maneira que fisiologicamente possamos ativar vias neuronais cerebrais específicas. Tal repetição levará, com o passar do tempo, à capacidade de ótima administração emocional, sem esforços grandiosos.
Concluindo, a boa prática emocional, treinada de maneira dedicada, levará a uma melhora significativa da qualidade de vida.
Um grande abraço.
Milton Medeiros.