quarta-feira, 20 de abril de 2011

Estresse, Seria Ele o Grande Mal da Humanidade?

Corte frontal do cérebro, normal à esquerda e com Alzheimer à direita.



A palavra estresse é usada com muita frequência pelas pessoas, e apesar da complexidade da definição atrelada a este termo, todos sabem do que se trata. O significado de estresse para a população geral remete a algo mau, relacionado a sofrimento físico e/ou emocional. Bem, o estresse é caracterizado pelo aumento da necessidade metabólica orgânica, sendo este aumento relacionado a fatores internos ou principalmente externos. Um exemplo de fator interno de estresse seria uma doença orgânica que demanda aporte maior de energia, e as alterações hormonais características aconteceriam independentemente do aspecto emocional da pessoa. Porém, o grande problema do mundo moderno, sendo extremamente frequente, é o estresse emocional produzido pelas exigências individuais, associadas aos relacionamentos entre seres humanos, sejam na vida profissional, sejam na vida pessoal. Os padrões do mundo atual, com o capitalismo selvagem, o neoliberalismo e a sede insasiável de lucro pelas cadeias de produção, levam à exaltação da eficiência, tendo mais valor individualmente àquele que mais produz, mesmo que isto exija um esforço acima de sua capacidade normal. As pessoas trabalham com metas extremas a serem cumpridas, sofrem pressões emocionais de seus superiores ou do próprio mercado onde competem, sendo este um carrasco que não perdoa a "ineficiência". O mundo capitalista, que mantém como premissa a massa de mão de obra reserva, pune a falta de respostas individuais com demissões ou com rebaixamento de função nos postos de trabalho, afinal existem muitos trabalhadores desempregados, esperando por uma oportunidade e dispostos a cumprirem as funções exigidas, mesmo sendo elas acima de sua capacidade. Além de exigências absurdas no campo profissional, ainda é necessário enfrentar e lidar com outros tipos de sobrecarga emocional, como a violência urbana, os serviços de saúde pública inadequados, uma educação pública de má qualidade e até as relações familiares difíceis, num modelo onde as informações são tantas, de qualidades variadas, chegando às idades cada vez mais precoces e causando grandes problemas em relação aos limites a serem impostos por pais e professores.

Enfim, como pode o estresse causar danos orgânicos às pessoas? O estresse é determinado pela exigência externa de uma resposta exacerbada, resposta esta mais intensa que a resposta habitual. Fisiologicamente, isto é caracterizado pela conscientização da exigência pelo nosso neocórtex, mandando então informações para uma região chamada hipotálamo. Esta, então, produz o fator liberador de corticotropina, que atuando na glândula hipófise facilita a liberação de ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). O ACTH cai na corrente sanguínea e chega à glândula adrenal, em sua porção cortical. Esta, por sua vez, estimulada pelo ACTH, produz o cortisol, um hormônio que altera completamente a dinâmica do corpo, aumentando o metabolismo. O cortisol, juntamente com a adrenalina, liberada pela medula da adrenal, determinará aumento da frequência cardíaca, aumento da frequência respiratória, aumento da pressão arterial e desvio do fluxo de sangue para a musculatura estriada. O indivíduo fica mais atento e mais concentrado em relação ao fator estressor. Há um aumento da capacidade física e até cognitiva. Portanto, o estresse ocasional e em quantidades limitadas é bastante interessante para o ser humano. No entanto, quando o estresse é intenso e, principalmente, frequente, começam a surgir problemas diversos, tanto na esfera orgânica quanto na esfera emocional.


Os cardiologistas já tinham mostrado a nítida correlação deste problema com as doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio. Agora chegou a vez da neurociência mostrar os mecanismos moleculares capazes de produzir doenças relacionadas à perda de rendimento cognitivo e a distúrbios de humor.

O hipocampo, estrutura cerebral localizada no lobo temporal e de extrema importância na memória, é uma vítima dos níveis elevados de cortisol. A princípio, estudos realizados em laboratório,usando camundongos, comprovaram que os indivíduos submetidos a estresse crônico aprentavam perda de células nesta estrutura, com consequente redução do volume do hipocampo. Esta alteração, tem como consequência a redução de algumas formas de memória, em especial a de curta duração e a chamada memória de trabalho.Ora, já sabemos que os seres humanos com depressão apresentam com frequência uma redução no volume hipocampal, alteração esta relacionada à dificuldade de memória nestes pacientes. Esta redução de volume do córtex hipocampal relaciona-se diretamente à falta de capacidade do hipocampo em inibir o hipotálamo em resposta ao aumento de cortisol no sangue. Como consequência, mais cortisol é produzido e mais lesão hipocampal acontece. É uma verdadeira bola de neve.

Por outro lado, a amígdala, pequena estrutura do lobo temporal, fica hiperativa e aumenta de volume nas situações de estresse, graças à ação do cortisol. Acontece que a amígdala é o local da memorização dos acontecimentos traumáticos e estressantes, e quando hiperativa, facilita as reações do estresse mesmo em situações que não mereçam tal reação.

Certamente, estudos que já estão sendo conduzidos, irão muito em breve, mostrar o estresse crônico como um fator importantíssimo para o desenvolvimento de doença de Alzheimer, assim como já é reconhecido no desenvolvimento da depressão. A doença de Azheimer, caracterizada pela deterioração cognitiva progressiva e irreversível, tem como uma das mais importantes alterações macroestruturais, a redução do volume hipocampal.

Estes estudos precisam ser divulgados na imprensa leiga e com muito destaque, pois é de suma importância que todos conheçam os males do estresse, sendo que dentre estes certamente se encontram a depressão e os distúrbios de memória. A correlação direta e inequívoca com a doença de Alzheimer certamente será provada em breve.

Portanto, o estresse é no mínimo um dos grandes males da humanidade.