terça-feira, 25 de março de 2008

Conceitos de Emoções e Sentimentos.


Para continuarmos as discussões sobre fisiologia emocional e equilíbrio razão-emoção, torna-se importante as definições sobre emoções e sentimentos. Toda definição, seja sobre qual assunto for, é difícil, pois qualquer fenômeno ou objeto é composto de fartos componentes subjetivos. Imaginem então definições sobre emoções e sentimentos, cujos constituintes são completamente subjetivos.
Apesar das dificuldades, tentarei dar significado para algumas palavras relacionadas à virtualidade, afinal as palavras sentimento, afeto e emoção não podem ser usadas como sinônimos.
Afeto vem do latim "affectus", significando atingir , abalar, afligir. É um conjunto de fenômenos psíquicos acompanhados da sensação de prazer ou dor, alegria ou tristeza. Então, para a surpresa de muitos, afeto não está sempre relacionado às impressões positivas.
As emoções caracterizam-se pela súbita ruptura do equilíbrio afetivo. Geralmente são de curta duração e estão associados à perda da capacidade de agir com plena racionalidade. As emoções sem controle "engolem" a capacidade de agir com coerência.
Os sentimentos, pela minha definição, são estados afetivos mais duráveis e estáveis. São causadores de vivências menos extremas, com menores repercussões sobre as funções orgânicas.
Saliento que sentimentos podem ser originários de emoções primárias. Por exemplo, a emoção do pânico como susto, espanto ou terror, impetrando o sentimento de desconfiança ou insegurança.
Conhecendo estes conceitos estamos prontos para, na próxima postagem, discutirmos sobre a capacidade de autocontrole diante de situações complexas relacionadas às emoções e sentimentos.
Milton Medeiros.

terça-feira, 18 de março de 2008

Por que Conhecer as Funções Cerebrais Relacionadas às emoções?


Acho indiscutível a seguinte frase: "o conhecimento é precedente incondicional da boa realização". Para desempenhar uma boa função em qualquer área das inúmeras atividades humanas, faz-se necessário o estudo dos detalhes do funcionamento daquela área em específico.
A área emocional é a mais presente e mais complexa a ser conhecida. Poderemos discutir, em postagens posteriores, a fisiologia emocional de maneira simplificada, acessível inclusive aos que não são especialistas nas ciências neurológicas ou psicológicas.
Para começar, é necessário enfatizar que as emoções e sentimentos acontecem em decorrência de reações químicas convertidas em impulsos elétricos cerebrais. A neurociência está distante do conhecimento completo de todos os acontecimentos fisiológicos do cérebro. Porém, já sabemos o bastante para conseguirmos mudanças para melhor no aspecto emocional e conseqüentemente no aspecto orgânico, resultando em melhor qualidade de vida. Qualquer pessoa pode evoluir emocionalmente e sem ajuda direta de outros, bastando um melhor autoconhecimento. Falo de conhecimento fisiológico e a partir disto, a capacidade de ativação de diferentes vias neuronais para mudanças de atitudes frente aos problemas.
Então, é possível estruturar-se emocionalmente, primeiro conhecendo mais sobre a fisiologia emocional, depois entendendo o funcionamento orgânico nas situações de "tempestade emocional" e por fim, buscar a harmonia razão-emoção.
A tendência científica atual é a valorização desta harmonia. Este paradigma é relativamente recente.
Na maior parte da história humana houve uma supervalorização da chamada racionalidade, deixando a emoção como sendo sinônimo de "fraqueza". Platão, por exemplo, dizia que as paixões nada mais eram que bestas selvagens tentando abandonar o corpo. Ele defendia a idéia de que os deuses teriam plantado a semente divina no cérebro dos humanos, permitindo o raciocínio.
Descartes entrou para a história da filosofia com a sua famosa frase "penso, logo existo". Enfatizava a separação razão-emoção, atribuindo superioridade do racional sobre o emocional.
Kant também dava superioridade a razão e dizia da impossibilidade do encontro da racionalidade com a felicidade. Afirmava que se Deus tivesse criado o homem para ser feliz, não o teria dotado de razão, além do mais, definia paixões como "enfermidades da alma".
Esta visão dicotômica prevaleceu por muito tempo e ainda encontra força em algumas sociedades contemporâneas.
Jean Piaget, já no século XX, começou os questionamentos sobre esta dicotomia.Afirmava que razão-emoção são diferentes em natureza, mas inseparáveis em todas as ações humanas. Toda ação que se pratica tem em si um aspecto cognitivo e um aspecto emocional. A emoção seria a energia pela qual a cognição funciona.
Henri Wallon, contemporâneo de Piaget, publicou muitos trabalhos advogando a harmonização razão-emoção. Tentou compreender as emoções, dando-lhes papel fundamental na evolução da consciência individual. A formação intelectual dependeria das construções afetivas.
Atualmente existem inúmeros estudos focados nos conteúdos emocionais cerebrais. A falta de crença na relação funcionamento orgânico-atividade emocional está desaparecendo, mesmo entre os mais conservadores, pois as evidências científicas são muitas e irrefutáveis.
Poderemos discutir estes estudos em outras postagens deste blog.
Então, " viva " à harmonia razão-emoção!!
Milton Medeiros.

sábado, 15 de março de 2008

Por que filosofia neuronal?



Dr. Milton C. R. Medeiros.
Neurologista.
Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

O objetivo deste blog é discutir sobre o nobre ato de pensar. Tal ato, característica suprema do ser humano, ocorre através de reações bioquímicas cerebrais. Atualmente temos conhecimentos profundos a respeito da fisiologia cerebral e podemos modificá-la quando isso puder trazer mudanças adequadas às pessoas. Estas mudanças podem ser feitas através de medicamentos ou através de alterações reacionais perante às diferentes circunstâncias da vida.
Recentemente escrevi um livro, intitulado Visão Geral de Um Médico, Aspectos Fisiológicos, Filosóficos e Históricos (ed. Quártica - 2007). Lá discuto a relatividade da "verdade", como ela não é absoluta e como muda com o passar do tempo, a depender dos momentos em que se vive em relação a aspectos sociais, econômicos, religiosos, etc. Esta relatividade da verdade vigente é determinada pela capacidade de plasticidade cerebral, ou seja, pela capacidade de ativação de diferentes vias neuronais em detrimento de outras. Portanto, nossas convicções podem mudar com o passar do tempo. A natureza, observada amplamente, é caracterizada principalmente pela mutabilidade. O ser humano não é excessão. Todas as células de nosso corpo são substituídas com o tempo, algumas com ciclos mais rápidos, como a pele, outras com ciclos mais lentos, como as células do sistema nervoso. Mas no final tudo é mutável. Nossas idéias também o são. Como dizia o filósofo da Grécia antiga, Heráclito, o mundo vive em constante mutação. Dizia que não podíamos entrar no mesmo rio 2 vezes, pois a água que toca nossa pele na segunda vez já não é a mesma que tocou na primeira.
Os questionadores acabam por levantar dúvidas sobre as chamadas "verdades absolutas". Podem ser pressionados em virtude de suas posturas e até marginalizados. Porém, graças a estas posturas é que a humanidade evolui, já que toda grande mudança vem ás custas do descontentamento daqueles satisfeitos com a situação vigente. Estes, certamente, tem o domínio das opiniões daquele dado momento. São os possuidores do poder, pois suas habilidades, conhecimentos e convicções são hipervalorizados. O questionador sofrerá as conseqüências de sua audácia. Só o idealista consegue as mudanças, sempre pagando um alto preço pessoal pela conquista, preço este cobrado pelo homem medíocre, descrito por Ingenieros em "O Homem Medíocre"(livraria do chain editora - Curitiba). Este último é caracterizado pela acomodação, aceitação incondicional dos " dogmas" determinados pela sociedade, seja em qual aspecto for. O homem medíocre tem uma menor plasticidade neuronal, uma dificuldade maior de ativar diferentes áreas cerebrais. Sua única vantagem é estar em grande maioria na população. Os idealistas são apenas uma minúscula parte, e cabe justamente a esta pequena parcela da humanidade a pesada tarefa da evolução intelectual.
Este blog tentará mostrar como podemos utilizar melhor nossos cérebros, como ativar diferentes circuítos neuronais e podermos revolucionar nossas vidas, afinal, o conhecimento tem como principal conseqüência o poder. Se conhecermos melhor o funcionamento de nossos próprios cérebros e conseqüentemente o dos outros, poderemos transformar nossos ambientes de convívio em lugares melhores.
Milton Medeiros.