sábado, 15 de março de 2008

Por que filosofia neuronal?



Dr. Milton C. R. Medeiros.
Neurologista.
Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

O objetivo deste blog é discutir sobre o nobre ato de pensar. Tal ato, característica suprema do ser humano, ocorre através de reações bioquímicas cerebrais. Atualmente temos conhecimentos profundos a respeito da fisiologia cerebral e podemos modificá-la quando isso puder trazer mudanças adequadas às pessoas. Estas mudanças podem ser feitas através de medicamentos ou através de alterações reacionais perante às diferentes circunstâncias da vida.
Recentemente escrevi um livro, intitulado Visão Geral de Um Médico, Aspectos Fisiológicos, Filosóficos e Históricos (ed. Quártica - 2007). Lá discuto a relatividade da "verdade", como ela não é absoluta e como muda com o passar do tempo, a depender dos momentos em que se vive em relação a aspectos sociais, econômicos, religiosos, etc. Esta relatividade da verdade vigente é determinada pela capacidade de plasticidade cerebral, ou seja, pela capacidade de ativação de diferentes vias neuronais em detrimento de outras. Portanto, nossas convicções podem mudar com o passar do tempo. A natureza, observada amplamente, é caracterizada principalmente pela mutabilidade. O ser humano não é excessão. Todas as células de nosso corpo são substituídas com o tempo, algumas com ciclos mais rápidos, como a pele, outras com ciclos mais lentos, como as células do sistema nervoso. Mas no final tudo é mutável. Nossas idéias também o são. Como dizia o filósofo da Grécia antiga, Heráclito, o mundo vive em constante mutação. Dizia que não podíamos entrar no mesmo rio 2 vezes, pois a água que toca nossa pele na segunda vez já não é a mesma que tocou na primeira.
Os questionadores acabam por levantar dúvidas sobre as chamadas "verdades absolutas". Podem ser pressionados em virtude de suas posturas e até marginalizados. Porém, graças a estas posturas é que a humanidade evolui, já que toda grande mudança vem ás custas do descontentamento daqueles satisfeitos com a situação vigente. Estes, certamente, tem o domínio das opiniões daquele dado momento. São os possuidores do poder, pois suas habilidades, conhecimentos e convicções são hipervalorizados. O questionador sofrerá as conseqüências de sua audácia. Só o idealista consegue as mudanças, sempre pagando um alto preço pessoal pela conquista, preço este cobrado pelo homem medíocre, descrito por Ingenieros em "O Homem Medíocre"(livraria do chain editora - Curitiba). Este último é caracterizado pela acomodação, aceitação incondicional dos " dogmas" determinados pela sociedade, seja em qual aspecto for. O homem medíocre tem uma menor plasticidade neuronal, uma dificuldade maior de ativar diferentes áreas cerebrais. Sua única vantagem é estar em grande maioria na população. Os idealistas são apenas uma minúscula parte, e cabe justamente a esta pequena parcela da humanidade a pesada tarefa da evolução intelectual.
Este blog tentará mostrar como podemos utilizar melhor nossos cérebros, como ativar diferentes circuítos neuronais e podermos revolucionar nossas vidas, afinal, o conhecimento tem como principal conseqüência o poder. Se conhecermos melhor o funcionamento de nossos próprios cérebros e conseqüentemente o dos outros, poderemos transformar nossos ambientes de convívio em lugares melhores.
Milton Medeiros.

3 comentários:

Luciano disse...

Começou bem!!
Confesso que gostei muito dessa afirmação de que "o homem medíocre tem uma menor plasticidade neuronal, uma dificuldade maior de ativar diferentes áreas cerebrais. Sua única vantagem é estar em grande maioria na população". Isto é campo fértil à reflexão e também explica muita coisa.
Abraços

Unknown disse...

Toda esta reflexão ao redor do “ato de pensar” lembrou-me uma conhecida frase de Schopenhauer, a qual afirma que “Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência.” Como é citado no livro “Visão Geral de Um Médico, Aspectos Fisiológicos, Filosóficos e Históricos” a verdade absoluta é um conceito cada vez mais discutido por grandes pesquisadores; isto aliado ao fato de nossas idéias serem constantemente mutáveis, torna o tema em discussão muito clássico, sendo assim, sempre atual. Ressalta-se, ainda, o fascínio causado pelo fato de tentar explicar a maneira de pensar e sua relação com o equilíbrio bioquímico cerebral.
Um grande abraço!!!!!

Leidiane disse...

Acredito que cada ser humano tem sua verdade absoluta,não cabe aos outros jugar o que realmente é verdadeiro.Através da sua reflexão devo concordar que devemos sim nos conhecermos melhor para podermos conviver melhor em sociedade, desta maneira quem sabe os medíocres passem a ser minoria e assim teremos um mundo melhor e mais justo.
PARABÉNS...UM ABRAÇO