sábado, 2 de agosto de 2008

Automotivação



A automotivação é um componente importantíssimo na composição da inteligência emocional. Sua falta pode determinar um estado de infelicidade crônica, abrindo caminhos indesejáveis, que quando trilhados levam à depressão.
A automotivação é um "impulso" que surge em decorrência de uma necessidade, levando a uma mudança de comportamento. Esta "necessidade" pode apresentar-se em vários níveis, desde necessidades primárias, como sede e fome, até necessidades mais complexas, como posição de respeitabilidade social, liderança, crescimento intelectual, estabilidade emocional, etc.
O impulso para a satisfação das necessidades mais básicas surge sem esforço intelectual. Por exemplo, se temos fome, a falta de glicose sanguínea determina alteração funcional hipotalâmica, liberando substâncias químicas ativas em área cerebrais, levando à necessidade de alimentar-se.
Portanto, este impulso surge naturalmente, sem precisar de esforço racional (neocórtex).
Porém, muitas vezes, as necessidades humanas são complexas. Sente-se a necessidade, porém não se consegue gerar o impulso para satisfazê-la. Qual a solução para resolver um problema tão incômodo? Bem, primeiro surge a necessidade do "insight". A interiorização, através de uma auto-avaliação minuciosa, poderá mostrar a real fonte do sentimento de necessidade. Este é o primeiro passo para conseguir definir qual impulso temos que gerar.
Após este exercício inicial, deve-se tomar "as rédeas de nossas conexões neuronais". O impulso pode ser gerado no neocórtex, ou seja, de maneira consciente e racional inicia-se uma mudança de comportamento no sentido de satisfazer a necessidade em questão. Este impulso racional muda a qualidade de vida para melhor. Estas vias neuronais podem ser ativadas de maneira "voluntária".
Quando os românticos dizem que a felicidade está dentro de cada um, estão fazendo uma afirmação que encontra respaldo nos achados científicos. Pode-se tirar a sensação de falta de plenitude da vida. Basta querer. É uma questão de atitude e mudança de postura. Lembre-se que vias neuronais ativadas de maneira repetitiva passam a funcionar quase que de maneira reflexa.
A automotivação é importante para alcançar um objetivo. Tal objetivo não necessariamente precisa ser um fim em si mesmo. O mais importante é justamente exacerbar o prazer nos atos que levarão ao objetivo final. Então o objetivo poderá ser este, ou seja, dar cada passo com grande maestria, fazendo o melhor que pode e aprendendo a sentir prazer mesmo nos menores atos, rumo ao prêmio final, que se não vier, já valeu a pena pelos bons momentos proporcionados no dia-a-dia.
Quase que diariamente, observo a cópia de um quadro de Salvador Dali que tenho em minha casa (A Menina na Janela - 1925). Trata-se de uma obra maravilhosa, levando qualquer um que a contemple a uma ampla divagação filosófico-estética.
Fico imaginando como Savador Dali sentia-se na confecção deste quadro. Certamente deve ter tido uma sensação de felicidade ao concluir a obra. No entanto, o segredo fisiológico-emocional para a exaltação da felicidade, mesmo que fugaz, seria a alegria e o prazer de dar cada pincelada com tamanha competência. Isto é ampliar os vários momentos felizes da vida.
O cérebro humano é extremamente poderoso e de maneira consciente e racional podemos interfirir de maneira positiva em nosso sistema límbico, sentindo alegria e a ampliando nas realizações do cotidiano.
Concluindo, a automotivação está ao alcance de todos que se esforçarem.

Obs: Pintura - A Menina na Janela - Salvador Dali - 1925

Dr Milton C. R. Medeiros.

2 comentários:

Cíntia Fleisz disse...

Dr. Milton: Essa postagem, é uma das melhores de seu blog. Não sei se gostei tanto dela pela "identificação", ou se você está ficando cada vez mais inspirado ao escrever...
Posso dizer (e vc sabe disso) que conheço muito bem a depressão e a automotivação. Mesmo sendo estados completamente opostos, sei o que é cada um e estão descritos de forma espetacular. Essa infelicidade crônica, que aparece sem razão, e nos leva a doses elevadas de medicamentos, só vai embora se tivermos um trabalho de automotivação paralelamente. Nunca, por mais que a felicidade esteve em minhas mãos, pude perceber ela, sem ajuda da terapia. Hoje, vejo e separo claramente meus estados e até algum insight que surge. Acho que aos poucos estou "tomando as rédeas das conexões neuronais", e sentindo prazer nos menores atos, como você cita. Não é fácil, de maneira alguma, mas totalmente necessário para uma vida que não passa de momentos, que se não forem prazerosos, sejam pelo menos alegres. Grande abraço!!!!

Milton César Rodrigues Medeiros. disse...

Querida amiga Cíntia, fico feliz pela sua participação. Tenho a certeza de que você realmente começa a "tomar as rédeas de suas conexões neuronais". As circunstâncias da vida fizeram com que você tivesse um amuderecimento precoce.
Um abraço.
Obs: estou visitando seu blog e estou gostando.
Milton Medeiros.