sábado, 2 de agosto de 2008

Automotivação



A automotivação é um componente importantíssimo na composição da inteligência emocional. Sua falta pode determinar um estado de infelicidade crônica, abrindo caminhos indesejáveis, que quando trilhados levam à depressão.
A automotivação é um "impulso" que surge em decorrência de uma necessidade, levando a uma mudança de comportamento. Esta "necessidade" pode apresentar-se em vários níveis, desde necessidades primárias, como sede e fome, até necessidades mais complexas, como posição de respeitabilidade social, liderança, crescimento intelectual, estabilidade emocional, etc.
O impulso para a satisfação das necessidades mais básicas surge sem esforço intelectual. Por exemplo, se temos fome, a falta de glicose sanguínea determina alteração funcional hipotalâmica, liberando substâncias químicas ativas em área cerebrais, levando à necessidade de alimentar-se.
Portanto, este impulso surge naturalmente, sem precisar de esforço racional (neocórtex).
Porém, muitas vezes, as necessidades humanas são complexas. Sente-se a necessidade, porém não se consegue gerar o impulso para satisfazê-la. Qual a solução para resolver um problema tão incômodo? Bem, primeiro surge a necessidade do "insight". A interiorização, através de uma auto-avaliação minuciosa, poderá mostrar a real fonte do sentimento de necessidade. Este é o primeiro passo para conseguir definir qual impulso temos que gerar.
Após este exercício inicial, deve-se tomar "as rédeas de nossas conexões neuronais". O impulso pode ser gerado no neocórtex, ou seja, de maneira consciente e racional inicia-se uma mudança de comportamento no sentido de satisfazer a necessidade em questão. Este impulso racional muda a qualidade de vida para melhor. Estas vias neuronais podem ser ativadas de maneira "voluntária".
Quando os românticos dizem que a felicidade está dentro de cada um, estão fazendo uma afirmação que encontra respaldo nos achados científicos. Pode-se tirar a sensação de falta de plenitude da vida. Basta querer. É uma questão de atitude e mudança de postura. Lembre-se que vias neuronais ativadas de maneira repetitiva passam a funcionar quase que de maneira reflexa.
A automotivação é importante para alcançar um objetivo. Tal objetivo não necessariamente precisa ser um fim em si mesmo. O mais importante é justamente exacerbar o prazer nos atos que levarão ao objetivo final. Então o objetivo poderá ser este, ou seja, dar cada passo com grande maestria, fazendo o melhor que pode e aprendendo a sentir prazer mesmo nos menores atos, rumo ao prêmio final, que se não vier, já valeu a pena pelos bons momentos proporcionados no dia-a-dia.
Quase que diariamente, observo a cópia de um quadro de Salvador Dali que tenho em minha casa (A Menina na Janela - 1925). Trata-se de uma obra maravilhosa, levando qualquer um que a contemple a uma ampla divagação filosófico-estética.
Fico imaginando como Savador Dali sentia-se na confecção deste quadro. Certamente deve ter tido uma sensação de felicidade ao concluir a obra. No entanto, o segredo fisiológico-emocional para a exaltação da felicidade, mesmo que fugaz, seria a alegria e o prazer de dar cada pincelada com tamanha competência. Isto é ampliar os vários momentos felizes da vida.
O cérebro humano é extremamente poderoso e de maneira consciente e racional podemos interfirir de maneira positiva em nosso sistema límbico, sentindo alegria e a ampliando nas realizações do cotidiano.
Concluindo, a automotivação está ao alcance de todos que se esforçarem.

Obs: Pintura - A Menina na Janela - Salvador Dali - 1925

Dr Milton C. R. Medeiros.

sábado, 28 de junho de 2008

Estado de Fluxo


Já escrevi anteriormente a respeito da capacidade de atenção plena e das possibilidades biológicas da melhora na qualidade de observação.
A grande capacidade de concentração pode levar o ser humano ao chamado estado de fluxo. É sem dúvida um momento que transcende o real.
Tal estado é caracterizado pela dedicação total àquilo que se está fazendo. Há objetivos claros, um alto grau de concentração em um limitado campo de atenção. Poderá ocorrer até a perda do sentimento de auto-consciência. Existe uma sensação de controle total sobre àquela atividade que se está realizando.
A atividade é tão agradável que por si só já é recompensadora.
No estado de fluxo, o indivíduo torna-se parte da atividade. As vias neuronais são ativadas nas áreas da motricidade, sensibilidade e regiões responsáveis pela emoção com um objetivo único, permitindo a concentração infalível. Tudo se resume ao que se faz naquele momento.
Qualquer pessoa é capaz de experimentar esta sensação quando desenvolve uma atividade muito agradável. O mais interessante é que pode-se desenvolver a capacidade de chegar ao estado de fluxo mesmo quando se realiza atividades rotineiras. Portanto, além da necessidade de entrar em estado de fluxo nas atividades agradáveis, uma espécie de meditação, quando nada mais está em nossa consciência, pode-se fazer um esforço para o desenvolvimento da capacidade de entrar nesse estado naquelas atividades não tão agradáveis. Se conseguir, elas então passarão a ser prazerosas.
Então, procure entrar em estado de fluxo com mais freqüência em sua vida. Ela ficará, no mínimo, mais interessante.


*Foto de um lance do jogador Careca, grande artilheiro que jogou no São Paulo, Nápoli e Seleção Brasileira. Indivíduo com capacidade de concentração extrema durante uma partida de futebol. Certamente um grande exemplo de sucesso pela capacidade de entrar em estado de fluxo.

Dr. Milton C. R. Medeiros.

terça-feira, 3 de junho de 2008

O Poder da Observação.



O sistema nervoso humano tem sua estrutura de maneira a encontrar-se preparado para a percepção e a conseqüente compreensão dos fenômenos que nos cercam. A observação atenta daquilo que nos rodeia deve ser feita de maneira a permitir o aproveitamento próprio das coisas boas, por menor que elas sejam. A boa capacidade de observar pode ser desenvolvida, a princípio com algum esforço e após o treinamento repetitivo dos órgãos sensoriais, nossas sensações ficarão mais apuradas (olfato, tato, visão, gustação, audição).
Pode-se passar a observar fenômenos de extrema beleza que antes eram ignorados.
Fenômenos da natureza observados e avaliados atentamente poderão mostrar o sublime, algo tão belo que faz com que nos sintamos numa outra dimensão, nos integrando de maneira completa ao universo, nos fazendo perder temporariamente o senso de individualidade.
O sublime só poderá ser presenciado pelos portadores de um cérebro privilegiado, com muitas vias neuronais ativas. Poderá ser presenciado não apenas mediante os fenômenos da natureza, mas também na contemplação do muito belo, como, por exemplo, numa obra de arte.
Então, comece imediatamente a desenvolver sua capacidade de observação, afinal, belezas infinitas estão prontas a serem observadas pelo bom observador.

*Pintura de Monet.

Dr. Milton C. R. Medeiros.

terça-feira, 13 de maio de 2008

A Capacidade da "atenção Plena".







Ouve-se com freqüência a afirmação aceita cientificamente de que usamos apenas uma pequena capacidade de nossos cérebros. Por que isto acontece? Pode-se fazer alguma coisa para mudar isto?
Bem, como já comentei noutros textos, os pensamentos são as traduções de reações bioquímicas trafegando por diferentes vias neuronais. Portanto, usa-se em demasia algumas vias, enquanto outras não são ativadas. Via de regra, o ser humano é rotineiro em sua maneira de pensar e de agir, havendo mudanças ao longo do tempo de maneira contínua, porém vagarosa. Estas mudanças são as manifestações da ativação de novas vias neuronais. A principal conseqüência da ativação de outras vias é certamente um aumento da capacidade de adaptar-se a diferentes circunstâncias da vida. A capacidade de resolução de problemas é aumentada, afinal seremos capazes de usar mais áreas cerebrais para uma melhor análise da situação. Poderemos navegar interiormente (no cérebro) e termos uma visão ampla dos acontecimentos.
O indivíduo intelectualmente bem dotado, de maneira geral, muda suas opiniões, sem que por isso deixe de ser valorizado, já que as opiniões anteriores ainda são importantes para a resolução de problemas. Seus estudos profundos e de assuntos variados o faz camaleão, sem contudo perder sua originalidade.
Então, para usar o cérebro de maneira mais próxima da plena, deve-se aprofundar os conhecimentos em várias áreas diferentes em relação aos mais variados temas (literatura, arte, política, etc). Esta é a maneira mais eficaz de exercitar o principal órgão do corpo humano.
*Pintura de Caspar David Friedrich - Saída da Lua Sobre o Mar - 1822.

Dr. Milton C. R. Medeiros.



quarta-feira, 30 de abril de 2008

"Insight".


A chamada inteligência emocional pode e deve ser desenvolvida por todos. Trata-se da ativação de vias neuronais relacionadas às boas atitudes da vida. A princípio estas vias são ativadas com algum esforço consciente, ou seja, ativando o neocórtex (área cerebral filogeneticamente mais recente e responsável pela consciência e racionalidade), e após repetidas vezes da boa ação emocional ser realizada, acabará por acontecer espontaneamente, não custando esforços.
O primeiro passo é o treinamento do "insight". Fazemos isso olhando para o nosso interior, analisando profundamente nossas emoções e sentimentos, provocados por determinado estímulo. Esta atitude do entendimento, pelo menos parcial, das sensações emocionais próprias, nos proporciona uma melhor administração das emoções. Esta capacidade se dá pelas conexões neuronais ligando neocórtex às áreas relacionadas às emoções, como amigdala cerebral, giro do cíngulo, hipocampo, área pré frontal. Tais conexões, sendo usadas com freqüência, ficarão hiperativadas e passarão a fazer parte efetiva do comportamento individual. Nas próximas postagens escreverei sobre outros componentes da inteligência emocional.
(foto: escultura "O Pensador"- de Auguste Rodin).

Dr. Milton C. R. Medeiros.

Neurologista. Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Relação Entre as Emoções e o Processo de conhecimento.



A cognição é constituída pela atenção, percepção, memória, juizo, raciocínio, imaginação, pensamento e discurso.
Estes diferentes compostos da cognição são fortemente influenciados pelas emoções e sentimentos passados e presentes. A relação razão-emoção, que antes era ignorada no papel da formação da cognição, hoje é considerada como evento importante na construção do conhecimento humano.
Se observarmos o juizo, um dos principais componentes da cognição, definido como a capacidade cerebral de afirmar ou negar diferentes conteúdos sobre um determinado tema usando a racionalidade individual, pode-se afirmar que ele será influenciado por emoções e sentimentos. O medo ou a insegurança provocado por algum evento no passado relacionado ao assunto em questão, armazenado na amigdala cerebral, influenciará para que haja um julgamento negativo em relação a este determinado tema. Por outro lado, o julgamento será positivo se o tema trouxer lembranças agradáveis.
Portanto, a racionalidade no papel da construção do conhecimento humano é fortemente influenciada pelas emoções e sentimentos.
No processo de aprendizagem, que dura toda a vida, deve-se buscar maneiras agradáveis de aprender. Desta forma poderá haver uma fixação mais consistente no nosso sistema de memória do assunto em estudo.
Qualquer aprendizado que se obtenha com insuficiente emoção ou sentimento, não será armazenado por longos períodos pelos lobos temporais. Se leio um livro que não me agrada e apenas por algum tipo de obrigação, certamente terei dificuldades em armazenar as informações nele contidas. Já quando leio um assunto que me interessa, altamente agradável, as informações são impregnadas em meu cérebro e passam a ser parte do meu "banco de memórias", podendo ser usadas num momento de dificuldades, na resolução de problemas. Então, este livro contribuiu para a minha inteligência, como já discutido em postagem anterior.
Concluo dizendo que emoções e sentimentos, que são controláveis e mutáveis conforme discutiremos no futuro, influenciam de maneira extremamente importante no processo cognitivo humano.
* (figura da postagem: provável auto-retrato de Leonardo da Vinci, protótipo da inteligência humana).


Milton C. R.Medeiros.
Neurologista e Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Sistema Límbico, Neocórtex, Hipotálamo.












Sistema límbico tem definições amplas e bastante controversas. De um modo geral, quando se fala em sistema límbico, estamos nos referindo às emoções e/ou sentimentos. Para num futuro próximo discutirmos a administração das emoções, primeiro teremos que conhecer um pouco sobre este sistema, além de uma básica noção de neocórtex, hipotálamo e hipófise.
O neurocientista Paul MacLean , na década de 40, desenvolveu pesquisas e aprofundou o conhecimento na área da fisiologia emocional. Seus experimentos sugeriam que estímulos elétricos no giro do cíngulo, amígdala e hipocampo (áreas localizadas medialmente no cérebro), produziam reações autonômicas (coração acelerado, sudorese, extremidades frias, pupilas dilatadas, aumento dos movimentos intestinais, aumento da freqüência respiratória), reações estas presentes nos momentos das emoções. Estas estruturas apresentam como função a ligação entre os locais que detém o domínio da cognição (neocórtex) e o hipotálamo, responsável bioquimicamente pela resposta emocional.
As áreas do sistema límbico funcionam mediante transmissão de impulsos nervosos como todo o restante do sistema nervoso. Estes impulsos elétricos são transmitidos de um neurônio para outro através de susbstâncias químicas (os neurotransmissores). Estes impulsos trafegam através de vias (circuitos neuronais), que determinam nossas emoções.
O neocórtex, que não faz parte do sistema límbico, é o local no cérebro relacionado à racionalidade. É a área que teria se desenvolvido por último na escala evolutiva animal.
O hipotálamo é a área do sistema nervoso que comanda a liberação hormonal de uma glândula chamada hipófise, também localizada no interior da caixa craniana. Esta glândula é a principal responsável pela liberação de substâncias relacionadas às sensações emocionais.
Agora, conhecendo as definições e funções básicas de neocórtex, sistema límbico, hipotálamo e hipófise, poderemos em postagens posteriores , discutirmos em moldes um pouco mais aprofundados, o funcionamento cerebral.
Lembrem-se que o poder é uma das principais conseqüências do conhecimento.

Milton C. R. Medeiros.
Neurologista e Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.







terça-feira, 1 de abril de 2008

Conceitos para inteligência.


Quando alguém diz que sou inteligente, isto me torna mais alegre. Mas afinal, como definir inteligência?
Como definição generalista, eu diria que inteligência são as capacidades de observação, apreensão e memorização dos fenômenos que nos cercam, mas principalmente o poder de correlacionar estas capacidades de maneira aleatória para a resolução de problemas, sejam eles quais forem.
Os métodos de mensuração da inteligência são subjetivos, pois nenhum é capaz de avaliar todas as suas nuances. O mais conhecido é o teste de Quoeficiente de Inteligência (QI). Este avalia o raciocínio lógico-matemático e a fluência verbal.
Recentemente, a neurociência vem aprofundando-se na chamada inteligência emocional. Esta diz respeito à capacidade de autoconhecimento, empatia, capacidade de relacionamento com o próximo e boa administração das próprias emoções.
Um indivíduo de alto QI, porém com pouca inteligência emocional, poderá ter menos sucesso na vida que uma pessoa de QI não tão alto, porém com boa inteligência emocional. Então, definir alguém como "inteligente" apenas por possuir um alto QI não parece algo plausível.
Há teorias que compartimentalizam a inteligência. Como exemplo podemos observar um craque no futebol com dificuldades imensas de expressar-se com palavras. Ele é dono de uma grande capacidade de controle motor e tem uma ótima função visuoespacial. Portanto, áreas cerebrais com grande desenvolvimento. Dentro do campo será capaz de resolver os problemas contidos num jogo de futebol com grande maestria. Já na hora da entrevista...
Este jogador de futebol é inteligente? Bem, se considerarmos a definição generalista de inteligência que coloquei no início, sim, ele é inteligente.
Um outro exemplo interessante é o do grande escultor e arquiteto de Roma, Bernini. Fez obras-primas na arquitetura como o projeto da cúpula da catedral de São Pedro, esculturas maravilhosas como a de Santa Tereza Dávila. Também fez um busto de Constanza Buonarelli (foto acima), sua noiva. Esta última obra é de rara beleza, mostrando todo o desenvolvimento do córtex cerebral motor do autor e excelente memória visual.Quem ousaria dizer que Bernini não foi inteligente? Porém, este mesmo Bernini foi capaz de "retalhar"com uma navalha o rosto de sua amada Constanza após uma crise de ciúmes. Ora, e a capacidade de autocontrole emocional do nosso gênio da arte, onde estaria? Isto nos mostra que o seu sistema emocional (sistema límbico), não era desenvolvido, ou seja faltava inteligência emocional para Bernini.
Seria possível Bernini ter desenvolvido sua inteligência emocional tanto quanto desenvolveu a sua inteligência para a arte? Seria possível o jogador de futebol desenvolver a sua capacidade de fluência verbal?
Tentarei mostrar em postagens posteriores que sim.
Poderemos discutir a respeito de ativações de vias neuronais, determinando as capacidades individuais e mostrando neurofisiologicamente que podemos desenvolver qualquer tipo de inteligência, em especial a emocional.
Aguardo os comentários para definir o próximo tema para postagem.

Milton Medeiros.
Neurologista. Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

terça-feira, 25 de março de 2008

Conceitos de Emoções e Sentimentos.


Para continuarmos as discussões sobre fisiologia emocional e equilíbrio razão-emoção, torna-se importante as definições sobre emoções e sentimentos. Toda definição, seja sobre qual assunto for, é difícil, pois qualquer fenômeno ou objeto é composto de fartos componentes subjetivos. Imaginem então definições sobre emoções e sentimentos, cujos constituintes são completamente subjetivos.
Apesar das dificuldades, tentarei dar significado para algumas palavras relacionadas à virtualidade, afinal as palavras sentimento, afeto e emoção não podem ser usadas como sinônimos.
Afeto vem do latim "affectus", significando atingir , abalar, afligir. É um conjunto de fenômenos psíquicos acompanhados da sensação de prazer ou dor, alegria ou tristeza. Então, para a surpresa de muitos, afeto não está sempre relacionado às impressões positivas.
As emoções caracterizam-se pela súbita ruptura do equilíbrio afetivo. Geralmente são de curta duração e estão associados à perda da capacidade de agir com plena racionalidade. As emoções sem controle "engolem" a capacidade de agir com coerência.
Os sentimentos, pela minha definição, são estados afetivos mais duráveis e estáveis. São causadores de vivências menos extremas, com menores repercussões sobre as funções orgânicas.
Saliento que sentimentos podem ser originários de emoções primárias. Por exemplo, a emoção do pânico como susto, espanto ou terror, impetrando o sentimento de desconfiança ou insegurança.
Conhecendo estes conceitos estamos prontos para, na próxima postagem, discutirmos sobre a capacidade de autocontrole diante de situações complexas relacionadas às emoções e sentimentos.
Milton Medeiros.

terça-feira, 18 de março de 2008

Por que Conhecer as Funções Cerebrais Relacionadas às emoções?


Acho indiscutível a seguinte frase: "o conhecimento é precedente incondicional da boa realização". Para desempenhar uma boa função em qualquer área das inúmeras atividades humanas, faz-se necessário o estudo dos detalhes do funcionamento daquela área em específico.
A área emocional é a mais presente e mais complexa a ser conhecida. Poderemos discutir, em postagens posteriores, a fisiologia emocional de maneira simplificada, acessível inclusive aos que não são especialistas nas ciências neurológicas ou psicológicas.
Para começar, é necessário enfatizar que as emoções e sentimentos acontecem em decorrência de reações químicas convertidas em impulsos elétricos cerebrais. A neurociência está distante do conhecimento completo de todos os acontecimentos fisiológicos do cérebro. Porém, já sabemos o bastante para conseguirmos mudanças para melhor no aspecto emocional e conseqüentemente no aspecto orgânico, resultando em melhor qualidade de vida. Qualquer pessoa pode evoluir emocionalmente e sem ajuda direta de outros, bastando um melhor autoconhecimento. Falo de conhecimento fisiológico e a partir disto, a capacidade de ativação de diferentes vias neuronais para mudanças de atitudes frente aos problemas.
Então, é possível estruturar-se emocionalmente, primeiro conhecendo mais sobre a fisiologia emocional, depois entendendo o funcionamento orgânico nas situações de "tempestade emocional" e por fim, buscar a harmonia razão-emoção.
A tendência científica atual é a valorização desta harmonia. Este paradigma é relativamente recente.
Na maior parte da história humana houve uma supervalorização da chamada racionalidade, deixando a emoção como sendo sinônimo de "fraqueza". Platão, por exemplo, dizia que as paixões nada mais eram que bestas selvagens tentando abandonar o corpo. Ele defendia a idéia de que os deuses teriam plantado a semente divina no cérebro dos humanos, permitindo o raciocínio.
Descartes entrou para a história da filosofia com a sua famosa frase "penso, logo existo". Enfatizava a separação razão-emoção, atribuindo superioridade do racional sobre o emocional.
Kant também dava superioridade a razão e dizia da impossibilidade do encontro da racionalidade com a felicidade. Afirmava que se Deus tivesse criado o homem para ser feliz, não o teria dotado de razão, além do mais, definia paixões como "enfermidades da alma".
Esta visão dicotômica prevaleceu por muito tempo e ainda encontra força em algumas sociedades contemporâneas.
Jean Piaget, já no século XX, começou os questionamentos sobre esta dicotomia.Afirmava que razão-emoção são diferentes em natureza, mas inseparáveis em todas as ações humanas. Toda ação que se pratica tem em si um aspecto cognitivo e um aspecto emocional. A emoção seria a energia pela qual a cognição funciona.
Henri Wallon, contemporâneo de Piaget, publicou muitos trabalhos advogando a harmonização razão-emoção. Tentou compreender as emoções, dando-lhes papel fundamental na evolução da consciência individual. A formação intelectual dependeria das construções afetivas.
Atualmente existem inúmeros estudos focados nos conteúdos emocionais cerebrais. A falta de crença na relação funcionamento orgânico-atividade emocional está desaparecendo, mesmo entre os mais conservadores, pois as evidências científicas são muitas e irrefutáveis.
Poderemos discutir estes estudos em outras postagens deste blog.
Então, " viva " à harmonia razão-emoção!!
Milton Medeiros.

sábado, 15 de março de 2008

Por que filosofia neuronal?



Dr. Milton C. R. Medeiros.
Neurologista.
Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.

O objetivo deste blog é discutir sobre o nobre ato de pensar. Tal ato, característica suprema do ser humano, ocorre através de reações bioquímicas cerebrais. Atualmente temos conhecimentos profundos a respeito da fisiologia cerebral e podemos modificá-la quando isso puder trazer mudanças adequadas às pessoas. Estas mudanças podem ser feitas através de medicamentos ou através de alterações reacionais perante às diferentes circunstâncias da vida.
Recentemente escrevi um livro, intitulado Visão Geral de Um Médico, Aspectos Fisiológicos, Filosóficos e Históricos (ed. Quártica - 2007). Lá discuto a relatividade da "verdade", como ela não é absoluta e como muda com o passar do tempo, a depender dos momentos em que se vive em relação a aspectos sociais, econômicos, religiosos, etc. Esta relatividade da verdade vigente é determinada pela capacidade de plasticidade cerebral, ou seja, pela capacidade de ativação de diferentes vias neuronais em detrimento de outras. Portanto, nossas convicções podem mudar com o passar do tempo. A natureza, observada amplamente, é caracterizada principalmente pela mutabilidade. O ser humano não é excessão. Todas as células de nosso corpo são substituídas com o tempo, algumas com ciclos mais rápidos, como a pele, outras com ciclos mais lentos, como as células do sistema nervoso. Mas no final tudo é mutável. Nossas idéias também o são. Como dizia o filósofo da Grécia antiga, Heráclito, o mundo vive em constante mutação. Dizia que não podíamos entrar no mesmo rio 2 vezes, pois a água que toca nossa pele na segunda vez já não é a mesma que tocou na primeira.
Os questionadores acabam por levantar dúvidas sobre as chamadas "verdades absolutas". Podem ser pressionados em virtude de suas posturas e até marginalizados. Porém, graças a estas posturas é que a humanidade evolui, já que toda grande mudança vem ás custas do descontentamento daqueles satisfeitos com a situação vigente. Estes, certamente, tem o domínio das opiniões daquele dado momento. São os possuidores do poder, pois suas habilidades, conhecimentos e convicções são hipervalorizados. O questionador sofrerá as conseqüências de sua audácia. Só o idealista consegue as mudanças, sempre pagando um alto preço pessoal pela conquista, preço este cobrado pelo homem medíocre, descrito por Ingenieros em "O Homem Medíocre"(livraria do chain editora - Curitiba). Este último é caracterizado pela acomodação, aceitação incondicional dos " dogmas" determinados pela sociedade, seja em qual aspecto for. O homem medíocre tem uma menor plasticidade neuronal, uma dificuldade maior de ativar diferentes áreas cerebrais. Sua única vantagem é estar em grande maioria na população. Os idealistas são apenas uma minúscula parte, e cabe justamente a esta pequena parcela da humanidade a pesada tarefa da evolução intelectual.
Este blog tentará mostrar como podemos utilizar melhor nossos cérebros, como ativar diferentes circuítos neuronais e podermos revolucionar nossas vidas, afinal, o conhecimento tem como principal conseqüência o poder. Se conhecermos melhor o funcionamento de nossos próprios cérebros e conseqüentemente o dos outros, poderemos transformar nossos ambientes de convívio em lugares melhores.
Milton Medeiros.